quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Noite e dia - Lobão

Nos lençóis da cama, bela manhã
No jeito de acordar
A pele branca, gata garota
No peito a ronronar
Seu fingir dormindo, lindo

Você está me convidando
Menina quer brincar de amar
Você esta me convidando
Menina quer brincar...

No escuro do quarto, bela na noite
Nas ondas do luar
Seus olhos negros, pantera nua
Vem me hipnotizar
Eu olho sorrindo, lindo!

Você está me convidando
Menina quer brincar de amar
Você está me convidando
Menina quer brincar...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

sábado, 26 de janeiro de 2008


"...O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas..."
*
(Chico Buarque - Dura na Queda)

Na net

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008


Bom!


quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

História


A primeira fotografia colorida, tirada por James Clerk Maxwell em 1861.
Fotografia, Invenção do Diabo!

De todas as manifestações artísticas, a fotografia foi a primeira a surgir dentro do sistema industrial.
Seu nascimento só imaginável frente à possibilidade da reprodução. Pode-se afirmar que a fotografia não poderia existir como a conhecemos, sem o advento da indústria. Buscando atingir a todos. Por meio de novos produtos culturais, ela possibilitou a maior democratização do saber.
A nova invenção veio para ficar. A Europa se viu aos poucos, substituída por sua imagem fotográfica. O mundo tornou-se, assim portátil e ilustrado.


O homem moderno diante desse novo cenário, não tinha mais tempo para ler. Tinha que ver para crer! Não podia mais contar com a lentidão e imperfeição das imagens produzidas artesanalmente por desenhistas e pintores de sua época.
A sociedade européia levou muito tempo para compreender o real valor da produção fotográfica. Em 19 de agosto de 1939, a Academia Francesa mal anunciava publicamente a invenção do Daguerreótipo e o pintor Paul Delaroche já declarava enfaticamente: "De hoje em diante, a pintura está morta".
Nos círculos mais conservadores e nos meios religiosos da sociedade, "a invenção foi chamada de blasfêmia, e Daguerre (foto acima) era condecorado com o título de "Idiota dos Idiotas'". O pintor Ingres, ainda que utilizasse os daguerreótipos de Nadar para executar seus retratos, menosprezava a fotografia, como sendo apenas um produto industrial, e confidenciava: "a fotografia é melhor do que o desenho, mas não é preciso dizê-lo".

Baudelaire, um dos mais expressivos representantes da cultura francesa, negava publicamente a fotografia como forma de expressão artística, alegando que "a fotografia não passa de refúgio de todos os pintores frustrados", e, sarcasticamente, celebrava a fotografia "como uma arte absoluta, um Deus vingativo que realiza o desejo do povo... e Daguerre foi seu Messias... Uma loucura, um fanatismo se apoderou destes novos adoradores do sol!".
Com estas declarações, Baudelaire refletia o impacto causado pela fotografia na intelectualidade européia da época. Um artigo publicado no jornal alemão Leipziger Stadtanzeiger, ainda na última semana de agosto de 1839, ajuda a compreender melhor este confronto:
"Deus criou o homem à sua imagem e a máquina construída pelo homem não pode fixar a imagem de Deus. É impossível que Deus tenha abandonado seus princípios e permitido a um francês dar ao mundo uma invenção do Diabo".(Leipziger Stadtanzeiger, 26.08.1839, p.1).
A nova concepção da realidade conturbou o mundo cultural e artístico europeu. Como entender que a fotografia viesse para ficar, a não ser em substituição das tradicionais formas de representação?
Já se haviam gasto vãs sutilezas em decidir se a fotografia era ou não arte, mas preliminarmente, ainda não se perguntara se esta descoberta não transformava a natureza geral da arte.
Numa época em que as artes plásticas, o teatro e a literatura passavam por uma série de mudanças com proclamações e manifestos de diferentes "ismos", nasceram novas perspectivas na linguagem fotográfica. Influenciado em uma parte, pelas tomadas de posição, e em outra parte por estar a fotografia passando por um hiato, com a maioria dos profissionais se repetindo dentro dos mesmos moldes, sobretudo de ordem estética. E, por outro lado, também para conquistar determinado prestígio social, já que a sua presença na época não era vista com bons olhos.
Também outros fotógrafos não se conformavam em ver a fotografia "apenas como mero instrumento" para registrar a realidade.
Como não se poderia obter os resultados desejados pela simples aplicação dos processos tradicionais, começam a se desenvolver, novas técnicas baseadas numa grande variedade de recursos, principalmente químicos, novas técnicas de enquadramento e iluminação. A fotografia vai aos poucos perdendo seu poder de "cópia do real" para ser mais subjetiva, intimista, interpretativa, valorizando o discurso de seu próprio autor. As objetivas, por outro lado, foram reestudadas, com o intuito de se obter uma melhor qualidade de imagem e uma focalização mais suave.
A fotografia trouxe consigo a aura da veracidade e seu surgimento contribuiu diretamente para que todos os segmentos artísticos, literários e intelectuais passassem por uma profunda reflexão, evidenciando um dado importante que até aquele momento permanecera intacto: "A concepção que o homem tinha de si próprio".

autor: Prof. Enio Leite


http://www.fotodicas.com/historia/home.html

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Sem Compromisso
Chico Buarque

Você só dança com ele
E diz que é sem compromisso
É bom acabar com isso
Não sou nenhum pai-joão

Quem trouxe você fui eu
Não faça papel de louca
Prá não haver bate-boca dentro do salão

Quando toca um samba
E eu lhe tiro pra dançar
Você me diz: não, eu agora tenho par

E sai dançando com ele, alegre e feliz
Quando pára o samba
Bate palma e pede bis
Deixe a Menina
Chico Buarque

Não é por estar na sua presença
Meu prezado rapaz
Mas você vai mal
Mas vai mal demais
São dez horas, o samba tá quente
Deixe a morena contente
Deixe a menina sambar em paz

Eu não queria jogar confete
Mas tenho que dizer
Cê tá de lascar
Cê tá de doer
E se vai continuar enrustido
Com essa cara de marido
A moça é capaz de se aborrecer

Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz
E atrás dessa mulher mil homens, sempre tão gentis
Por isso para o seu bem
Ou tire ela da cabeça ou mereça a moça que você tem

Não sei se é para ficar exultante
Meu querido rapaz
Mas aqui ninguém o agüenta mais
São três horas, o samba tá quente
Deixe a morena contente
Deixe a menina sambar em paz

Não é por estar na sua presença
Meu prezado rapaz
Mas você vai mal
Mas vai mal demais
São seis horas o samba tá quente
Deixe a morena com a gente
Deixe a menina sambar em paz

domingo, 20 de janeiro de 2008

O que é fotografia, afinal?

A Fotografia oferece uma série de atribuições: todos fotografam visando vários objetivos: recordar um momento de vida que passa, documentar um fato ou um conceito técnico, divulgar uma visão de mundo ou simplesmente expor uma idéia.
autor: Prof. Enio Leite.

A Fotografia antes de tudo é uma linguagem. Um sistema de códigos,verbais ou visuais, um instrumento visual de comunicação. E toda a linguagem nada mais é do que um suporte, um meio, uma base que sustenta aquilo que realmente deve ser dito: a mensagem.

A mensagem é uma derivação de dois fatores: conotava e denotava. Qual é a diferença entre o cachorro amigo e o amigo cachorro? Enquanto a primeira é descritiva, a segunda já atribui um determinado valor metafórico.

A Fotografia, ao contrário do que pensamos não é uma cópia fiel da realidade fotografada. Isto porque a objetiva da câmera "filtra"essa imagem e o filme por sua vez a distorce, alterando sua cor, luminosidade e a sensação de tridimensionalidade.

Contudo, por mais que se queira apreender essa realidade em toda a sua amplitude, qualquer tentativa técnica é inútil, mesmo porque cada um de nós a concebe de modo distinto.E tudo aquilo que não é real ou análogo, passa a estar a serviço das mitologias contemporâneas.

A Fotografia não apenas prolonga a visão natural, como também descobre outro tipo de visão, a visão fotográfica, dotada de gramática própria, estética e ética peculiares. Saber ler, distinguir o detalhe do todo, pode resultar num aprendizado sem fim, e então aquela coisa que não tinha a menor graça para quem as observavam, passa a ter vida própria. A Fotografia não é realista, mas sim surrealista, nativamente surreal. Embora a Fotografia gere obras que podem ser denominadas por arte.

Esta subjetividade, pode mentir, provocar, chocar ou ainda proporcionar prazer estético. A imagem fotográfica não é, para começo de conversa, uma forma de arte, em absoluto. Como linguagem, ela é o meio pelo qual as obras de arte, entre outras coisas, são realizadas.

A Fotografia é sempre uma imagem de algo. Esta está atrelada ao referente que atesta a sua existência e todo o processo histórico que o gerou. Ler uma Fotografia implica em reconstituir no tempo seu assunto, derivá-lo no passado e conjugá-lo a um futuro virtual.

Assim, a linguagem fotográfica é essencialmente metafórica, esta atribui novas formas, novas cores, novos sentidos conotativos e denotativos. Estas comprovam que a Fotografia não está limitada apenas ao seu referente; ela o ultrapassa na medida em que o seu tempo presente é reconstituido, que o seu passado não pode deixar de ser considerado, e que o seu futuro também estará em jogo. Ou seja a sobrevivência de sua imagem está intimamente ligada á genialidade criativa de seu autor.


autor: Prof. Enio Leite.

Leninando

Crença

Eu só penso em você
Depois que eu penso em mim
E eu penso tanto em nós dois
Sei que é de cada um
E acho até comum
Pensar assim de nós dois

Vai que a gente pensa igual
E acho isso normal
O igual da diferença
Cada um, todo ser
Tem sua crença

Eu só penso em você
Depois eu penso em mim
E eu me confundo em nós dois
Sei quando viramos um
E aparece um
Que se mistura em nos dois

Vem não há o que pensar
Melhor achar normal
Viver a diferença
Pensa não, deixa assim,
Que a vida pensa

Tanto por viver, tento não jogar
Pra baixo do tapete essa poeira.
Tonto de você tento não pensar besteira.
Tanto por você, para o nosso bem
Às vezes fica um com e o outro sem
Seja como for somos nós e mais ninguém

O que eu quero de você
E você quer de mim
Nós decidimos depois
Eu só penso em você
E tenho aqui pra mim
Que você pensa em nós dois

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Memórias de um mentiroso
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Quando eu nasci, chorei sem apanhar. Por racismo, a minha avó não quis me ver, mas somente até me ver. Já tive bochechas rosadas e cabelo angelical, rosto inocente e olhar amedrontador. Eu já derrubei a bisa da escada. Já comi terra e massinha de janela. Cresci rodeado de flores, que me impregnaram com o seu perfume até hoje. Algumas eu colhi, outras eu pisei, ainda outras só admirei, porquanto elas sempre estiveram junto a mim.
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Já fui raio de luz e anticristo. Já machuquei meus pais sem tocar neles. Já desembainhei e estoquei alguns com a minha língua. Já fui anêmico, canhoto, hepático, esquizofrênico, tímido, depressivo, revoltado. Já me indignei com burrice, preguiça, preconceito e falta de empatia alheios, sem perceber as minhas próprias. Já troquei festas pela televisão, namoradas por amigos, beijos por conselhos e sentimentos pela razão, e vice-versa. Já levei pedradas na cabeça e sangrei. Diferente ou semelhante às mulheres, já sangrei pelo nariz e pelo pênis. Já me queimei ao sol e virei vampiro. Já me transformei com a lua.
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Eu já tive um melhor amigo de toda a minha vida diferente todo ano. Fui professor que se formou aluno. Já li todos os romances de Oscar Wilde. Já fui o companheiro certo nas horas erradas e achei um saco. Já fugi de casa por ter feito algo que só eu julgava errado. E voltei me achando um bobo. Já corri atrás de livros e mulheres e fugi de cobras e viados. Já mudei por causa disso. Já amei uma vez, mas fui amado muitas. Oxalá amar novamente mesmo que uma pequenita fração que amei ou me amaram. Já dormi com duas e três ao mesmo tempo. Já dei nove presentes iguais no dia dos namorados. Já fiquei dois anos sem beijar. Eu já me casei e enviuvei. Já vivi noventa e dois anos e achei pouco.
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Eu já fui católico, evangélico, judeu, agnóstico. Depois filósofo, esoterista, hermeneuta, pragmático. Já morei no Paraguai e viajei até Roma. Já fui desenhista, poeta, ladrão, cdf, assassino, escritor, alien, mercenário, conselheiro sentimental e ombro amigo. Me formei em administração, psicologia, letras, teologia, computação e direito. Já bebi até ser outra pessoa, e ela nunca me contou o que eu fazia. Já fui abstêmio e careta. Já passei vergonha pela coisa errada e fui humilhado pela coisa certa. Já fui julgado, sentenciado, condenado e banido, talvez não nessa ordem.
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Acreditei em coisas e pessoas que não acredito mais. Já fiz acreditarem - até a mim mesmo - naquilo que dizia. Já traí e fui traído mais vezes que gostaria. Já deixei de dizer eu te amo à pessoa certa. Mas não às erradas. Eu já fui a pessoa errada de alguém. Já tive uma filha que chama a outro de pai. Todavia, são os filhos que não tive que me (per)seguem. Já brinquei de capotar de carro e de voar da moto. Já viajei de avião, de catamarã e de alucinações. Já morri afogado. Já fui sapo rei e príncipe verde. Fiz sacanagem, sacaneei e fui sacaneado. Já fodi e fui fodido. Já conheci mulheres dos 13 aos 70. Já aprendi a amar e a desamar.
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Eu já assisti o São Paulo jogar no Morumbi. Noivei em Foz do Iguaçú e em Florianópolis. Já me arrepiei com o barulho do Schumacher em Interlagos. Vi show de rock, samba, sertanejo, funk, pop, tudo de graça e odiei. Já abracei a Marjorie Estiano, não este ano. Já chorei com filme, livro, mulher e pecado. Já sorri com filme, livro, mulher e pecado. Já fiz chorarem por sadismo. De prazer. De alegria. Já gozaram com meu beijo, olhar, voz e palavras, separadamente. Já beberam veneno por minha causa e não deixaram nem um pouco pra mim. Já beijei mais de mil bocas, mas nunca a mesma boca mil vezes. Conheci a anatomia e a alma feminina melhor que as minhas. Já fui um cara mau, hoje sou apenas um cara mau que não faz maldades.
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Apesar do que fiz ou penso que fiz, tudo não chega nem à metade da minha realidade e criatividade. Não é o fim nem o começo. É só aquilo que sempre vai estar na minha mente influenciando atitudes, amores, paixões. Tudo pode ser mentira para outros, mas não naquele Universo visto atrás dos meus olhos verdes.
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quarta-feira, 16 de janeiro de 2008


Cantor, compositor, arranjador, músico e produtor. Poucos artistas reúnem talento em tantas atividades. Já no começo dos anos 80, o público, perplexo, via Lenine e seus companheiros invadindo o palco com bumbos rústicos, entoando tradicionais maracatus pernambucanos com uma linguagem pop e equilibrando os acentos regionais de sua música. Cerca de 15 anos ainda se passariam até que o gênero fosse aceito em âmbito nacional e Recife (PE) fosse vista como um novo pólo de criação musical no Brasil.
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Aos 17 anos, em sua Recife natal, Oswaldo Lenine Macedo Pimentel montou com um amigo a loja de discos Wave, para estar mais perto dos desejados LPs importados. Só então ele despertaria para a música brasileira. Dois anos depois, foi acompanhar o nascimento de seu primeiro filho, no Rio de Janeiro (RJ), onde pretendia passar um ou dois anos, mas foi ficando, ficando... Inscreveu-se no festival MPB Shell 81 com a música “Prova de fogo”, de sua autoria. No ano seguinte, gravou seu primeiro disco, “Baque solto”, em parceria com Lula Queiroga. Em 1993, em dupla com Marcos Suzano, lançou o segundo LP, “Olho de peixe”. Quando viu, já tinha adotado o Rio.
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Nesse tempo, Lenine se revelou um compositor de mão cheia. Hoje, mais de 500 músicas levam sua assinatura, sendo que cerca de cem delas já foram gravadas por ele ou outros artistas. Esta rica obra inclui até mesmo oito sambas-enredo campeões do carnaval de rua carioca.
Em 1997, Lenine lançou seu primeiro disco solo, “O dia em que faremos contato”, considerado um marco da MPB por unir acústica, tecnologia eletrônica, raízes regionais e linguagem pop internacional para dar novos rumos à música brasileira. O CD lhe rendeu dois prêmios Sharp.
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Após uma grande turnê nacional, Lenine se apresentou na Cité de la Musique, em Paris, em 1999, o que alavancou sua carreira na Europa. No mesmo ano, ele lançou o CD “Na pressão”, que revelava toda a diversidade brasileira ao misturar maracatu, xote, samba, rap, coco, jungle, xaxado e trip hop. Lenine se colocava como um “cronista sonoro” do Brasil de fim de década/século/milênio, radiografando fielmente o cotidiano da nação.
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Desde então, Lenine tem feito shows em dezenas de países. Em três anos, ele se apresentou para mais de 800 mil pessoas no exterior. Em 2001, este pernambucano de alma carioca esteve em 14 cidades da França, onde seu público é mais significativo e “Na pressão” vendeu 30 mil cópias, sendo sempre apontado como um dos nomes mais representativos da nova música brasileira.
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O ano de 2001 marcou a presença de Lenine no cinema e no teatro, visto que o artista assinou a direção musical do filme “Caramuru – A invenção do Brasil”, de Guel Arraes, e da trilha sonora da peça “Cambaio”, de Chico Buarque e Edu Lobo. Na TV, suas músicas estiveram nas novelas "As filhas da mãe" e “O clone”, além do infantil "Sítio do Picapau Amarelo".
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Lançado simultaneamente em dez países, “Falange canibal”, álbum de 2002, contou com participações especiais de diversos artistas brasileiros e estrangeiros de variadas vertentes musicais. Lenine segue sua viagem inovadora sem encontrar as tais barreiras supostamente impostas pela língua.

Matando saudades

Leila - Legião Urbana

Estou pensando em você
Quero lhe ver
Mas nesse horário você deve estar
Pegando os filhotes no colégio
Depois chegar em casa
Ver o resto de tudo
E quando vem o silêncio
Fumar unzinho e ouvir Coltrane
Não faço mais isso mas entendo muito bem

Adoro os teus cabelos
Adoro a tua voz
Adoro teu estilo
Adoro tua paz de espírito

O encanador te deixou na mão
Tem reunião do condomínio
O telefone não dá linha
E o chuveiro tá dando choque
Tem uma barata voadora no quarto das crianças
E os monstrinhos estão gritando alucinados
P'rá eles tudo é diversão
Mas você sabe o que é ter pavor, pavor, pavor
De baratas voadoras

E você diz daquele seu jeito:- Ai, eu preciso de um homem! -
E eu digo: - Ah, Leila, eu também! -
E a gente ri

Você monta suas fotos prá exposição
Promete trabalhar mais com o computador
E terminar seu vídeo até setembro
Ter que pegar o carro no conserto
Ver a conta do banco, cartão, IPTU
Sábado vai ter peixada na Analú
E domingo, cachorro-quente com as crianças naFernanda

Adoro teu olhar
Adoro tua força
E adoro dizer seu nome: Leila
Às vezes as coisas são difíceis, minha amiga
Mas você sabe enfrentar a beleza dessa vida
Adoro dizer seu nome:Lei.....la, Leila

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

História da fotografia

"A Era Fotográfica


A fotografia corresponde a uma fase particular da evolução social para o modernismo. A ascensão de novas camadas da sociedade representava um maior significado político e social.
Os precursores do retrato fotográfico, nasceram da estreita relação com esta evolução. A ascensão dessas camadas sociais, em busca da sua individualidade e projeção social, provocou a necessidade da produção em larga escala de novos produtos de consumo, e particularmente da fotografia.
autor: Prof. Enio Leite / Publicado em: 9.10.2002


"Mandar fazer o retrato", era um ato simbólico, por meio do qual o público da classe social ascendente manifestava a sua mobilidade social, tanto para si mesmo, como para os demais, e se situava dentro daquele privilegiado grupo que tinha grande consideração social. Este processo transformava, ao mesmo tempo, a produção artesanal do retrato em meios cada vez mais mecanizados e, portanto, mais rápidos.

O retrato fotográfico, desta forma, representa a fase final dessa evolução. Desde 1750, em Paris, desponta, por impulsos sucessivos, a subida das classes médias no interior de uma sociedade cujas bases eram delimitadas pela aristocracia. Com o surgimento do público burguês e o desenvolvimento de seu bem estar material, aumenta também a sua necessidade de projeção social.

A independência econômica dessa nova classe gera também a necessidade de conquista do seu espaço político. O indivíduo ousa individualizar-se. Esse ousado indivíduo precisa, mais do que nunca, de um conjunto de leis próprias, precisa de habilidade e astúcia, necessárias a autopreservação, à auto-imposição, à auto-afirmação e à sua autoliberação. Aprofunda-se a necessidade de encontrar a sua característica manifestação, que esteja em função direta com a sua personalidade de afirmação, e a tomar consciência de si mesmo.

O retrato pintado, que na França era, há muitos séculos, privilégio de alguns círculos aristocráticos, com o advento da fotografia se democratiza. E, mesmo antes da Revolução Francesa, a moda do retrato já começa a ter grande aceitação pelos primeiros pequenos burgueses. Á medida em que afirmava a necessidade de representar-se, essa moda criava novas formas e técnicas de resultado satisfatório. Era a maneira encontrada pela nova classe para expressar seu culto pela individualidade.

Tivemos, assim, o surgimento da “silhouette,” que se constituía em um passatempo, ou seja, recortar, em papel cartão preto, o perfil dos amigos, ou ainda o retrato miniatura, executado por pintores miniaturistas, a "preços módicos". Em 1786 aparecia a técnica da gravação mecanizada do fisiotraço, que se baseava no mesmo princípio do pantógrafo. Era uma nova técnica de gravação de pequenos retratos em relevo, que copiava o perfil humano com escala e exatidão matemáticas.

Estes primeiros procedimentos de transcrição da imagem nada tinham que ver com o descobrimento técnico da fotografia, mas podem ser considerados como seus precursores ideológicos."

Neste link você encontra o texto inteiro.
http://www.fotodicas.com/historia/home.html

A velocidade terrível da queda

"...É um insight soturno é o futuro passando
Na velocidade terrível da queda
Na velocidade terrível da queda
Ante o colapso final a vertigem
próximo ao chão a penúltima descoberta
Que a lógica violenta das cores tinge
A velocidade terrível da queda
A velocidade terrível da queda..."


A Queda (Lobão)
Lero Lero - Edu Lobo


Sou brasileiro de estatura mediana
Gosto muito de fulana mas sicrana é quem me quer
Porque no amor quem perde quase sempre ganha
Veja só que coisa estranha, saia dessa se puder

Não guardo mágoa, não blasfemo, não pondero
Não tolero lero-lero, devo nada pra ninguém
Sou descasado, minha vida eu levo a muque
Do batente pro batuque faço como me convém

Eu sou poeta e não nego a minha raça
Faço versos por pirraça e também por precisão
De pé quebrado, verso branco, rima rica
Negaceio, dou a dica, tenho a minha solução

Sou brasileiro, tatu-peba taturana
Bom de bola, ruim de grana, tabuada sei de cor
Quatro vez sete vinte e oito nove fora
Ou a onça me devora ou no fim vou rir melhor

Não entro em rifa, não adoço, não tempero
Não remarco, marco zero, se falei não volto atrás
Por onde passo deixo rastro, deixo fama
Desarrumo toda a trama, desacato satanás

Sou brasileiro de estatura mediana
Gosto muito de fulana mas sicrana é quem me quer

Diz um ditado natural da minha terra
Bom cabrito é o que mais berra onde canta o sabiá
Desacredito no azar da minha sina
Tico-tico de rapina, ninguém leva o meu fubá

A morte

A morte vem de longe
Do fundo dos céus
Vem para os meus olhos
Virá para os teus
Desce das estrelas
Das brancas estrelas
As loucas estrelas
Trânsfugas de Deus
Chega impressentida
Nunca inesperada
Ela que é na vida
A grande esperada!
A desesperada
Do amor fratricida
Dos homens, ai! dos homens
Que matam a morte
Por medo da vida.
.
Vinicius de Morais

sábado, 12 de janeiro de 2008

A luz, por onde tudo começou


Para que possamos compreender o fenômeno da fotografia, é necessário conhecer algumas propriedades físicas da luz.
A luz é uma forma de energia eletromagnética radiante, à qual nossos olhos são sensíveis. A maneira como a vemos e como a fotografamos é diretamente afetada por duas importantes características da luz: ela viaja em linha reta e a uma velocidade constante. A luz pode ser refletida, absorvida e transmitida. Quando a luz é refletida por um objeto, se propaga em todas as direções.


fonte: Kodak Brasil

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

INSTALAÇÃO "ESPIRAL"

DE NIDO CAMPOLONGO


A Fé Solúvel
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli



É, me esqueci da luz da cozinha acesa
de fechar a geladeira
De limpar os pés,
Me esqueci Jesus!

De anotar os recados
Todas janelas abertas,
onde eu guardei a fé... em nós

Meu café em pó solúvel
Minha fé deu nó
Minha fé em pó solúvel

É... meu computador
Apagou minha memória
Meus textos da madrugada
Tudo o que eu já salvei

E o tanto que eu vou salvar
Das conversas sem pressa
Das mais bonitas mentiras

Hoje eu não vivo só... em paz
Hoje eu vivo em paz sozinho
Muitos passarão
Outros tantos passarinho

Que o teu afeto me afetou é fato
Agora faça me um favor
Um favor... por favor

A razão é como uma equação
De matemática... tira a prática
De sermos... um pouco mais de nós!

Que o teu afeto me afetou é fato
Agora faça me um favor

Um favor... por favor
Andar Com Fé
Gilberto Gil
.
Andar com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...
.
Que a fé tá na mulher
A fé tá na cobra coral
Ôô, num pedaço de pão
A fé tá na maré
Na lâmina de um punhal
Ôô, na luz, na escuridão
.
Andar com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...
.
A fé tá na manhã
A fé tá no anoitecer
Ôô, no calor do verão
A fé tá viva e sã
A fé também tá pra morrer
Ôô, triste na solidão
.
Andar com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...
.
Certo ou errado até
A fé vai onde quer que eu vá
Ôô, a pé ou de avião
Mesmo a quem não tem fé
A fé costuma acompanhar
Ôô, pelo sim, pelo não

Andar com fé eu vou que a fé não costuma faiá...

Filha de um pai que já foi, um dia, evangélico e de uma mãe católica, mas com uma queda para o espiritismo.
Quando nasceu, diferente da grande maioria, não foi batizada.

Cresceu no meio de várias crenças. Chegou a querer acreditar em algo, pois achava que era mais fácil enfrentar os obstáculos da vida tendo fé em algum Deus.
Estudou, leu livros e por curiosidade foi a alguns lugares.
Quando pequena sua avó a levou na igreja, uma evangélica. Ela era muito pequena e chorou até tirarem ela de lá. Também colocaram a menina do lado da banda! Do lado da bateria! Que idéia de girico!
Acompanhava sua mãe algumas vezes em outra igreja, a católica. Ouvia tudo com atenção e achava aquele discurso do padre um tanto estranho, mas via beleza na igreja. O espaço, as cores, a figuras, as pessoas...
Mais velha, foi com uma amiga à outra igreja evangélica. Era uma data especial. O noivado da amiga. Também achou bonito o carinho e o calor que vinha das pessoas que estavam ali. O espaço não era nada bonito. Aquela igreja em especial não tinha muitas verbas, diferente de outras.
Foi em Casas Espíritas, ouviu muito. Achou bonito o discurso. Parecia que as falas tinham sentido. Mas depois de um tempo, descobriu que por detrás daquilo tudo, a idéia era a mesma que a das outras doutrinas.
Leu um pouco sobre outras crenças. A Logosofia, o Budismo, o Espiritismo e suas “vertentes”, a Bíblia, mas, cansou de ler.
Queria muito acreditar em algo, participar de uma doutrina, compartilhar esse sentimento de fé, de crença. Mas percebeu que isso não estava no seu “pacote”.
Ela não aceitava as frases: “Deus quis assim!”, “Você nasceu para trabalhar essas coisas, seu espírito precisa evoluir.”, “ Deus está testando a sua fé!”, “Deus escreve certo por linhas tortas.”. Não aceitava e não gostava nem um pouco. Aliás, até hoje isso a incomoda.
Com tudo isso, descobriu que tinha um sentimento de fé. Uma fé que muitas pessoas não têm. A fé em si mesma.
Pena que não exista nenhuma ceita venerando ela, isso iria fazer muito bem ao seu ego. Mas, quer saber, ela anda com fé e essa não costuma falhar. Ela acredita e aposta nela mesma.

E mesmo assim, ainda fica curiosa sobre esse sentimento, principalmente quando é coletivo e não deixa de achar bonito e interessante, a força e a união que ele promove, mesmo sabendo que nem sempre é usado de boa fé.
Ah, fé!
.
P.S. Ela não escreve tão bem, mas, como tem fé, sabe que quando crescer sua escrita vai ser perfeita.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Fé é uma firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que depositamos em algo ou alguém. A palavra Fé veio da palavra grega pí·stis, que transmite a idéia de confiança, fidúcia, firme persuasão.
Fé se manifesta de várias maneiras e pode estar vinculada a questões emocionais e motivos nobres ou estritamente pessoais. Pode estar direcionada a alguma razão específica ou mesmo existir sem razão bem definida e não carece absolutamente de qualquer tipo de
evidência física racional.
A fé pode manifestar-se direcionada tanto a pessoa quanto a um
objeto inanimado, uma ideologia, um pensamento filosófico, um sistema qualquer, um conjunto de regras, uma crença popular, uma base de propostas ou dogmas de uma determinada religião.
Fé não é baseada em evidências físicas reconhecidas pela
comunidade científica. A fé geralmente é associada a experiências pessoais e pode ser compartilhada com outros através de relatos. Nesse sentido é geralmente associada ao contexto religioso.


http://pt.wikipedia.org/

Fotografia


A pequena caixa de madeira, criada por Louis Mande Daguerre em 1839, conseguiu realizar um sonho desejado há milênios.


O homem conquistou um novo passo para a eternidade. Seu registro, após séculos de tentativas, adquiriu a dinâmica da reprodução do real.
De todas as manifestações artísticas, a fotografia foi a primeira a surgir dentro do sistema industrial. Seu nascimento só imaginável frente à possibilidade da reprodução. Pode-se afirmar que a fotografia não poderia existir como a conhecemos, sem o advento da indústria. Buscando atingir a todos. Por meio de novos produtos culturais, ela possibilitou a maior democratização do saber.



autor: Prof. Enio Leite

ROLLEIFLEX


Durante pelo menos duas décadas a máquina Rolleiflex foi a vedete das coberturas jornalísticas.

Nos anos 60 e 70, quando as maiores revistas semanais do país eram a Manchete e O Cruzeiro, os fotógrafos empunhavam essa máquina, pesada e precisa, para as suas coberturas históricas. Forneciam as imagens necessárias para as grandes reportagens de David Nasser, Luiz Carlos Barreto, Jean Manzon, Joel Silveira, Murilo Mello Filho, Fernando Pinto etc.

autor: Arnaldo Niskier / Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) em 10/03/2004 .
VERBO FLOR

Marcelo Mário de Melo(1940 Caruaru/Pernambuco)

a Heloísa Arcoverde

Se eu flor
Se tu flores
Se ele flor
Se nós flormos
Se vós flordes
Se eles florem

E se não flores assim
para mim
plantarei um cacto
no meu jardim.
JOGOS
.
As palavras estão atropeladas.
Uivo para dentro a avidez
que trago nos jogos amorosos.
A monitoria do museu
vive uma tarde de estudantes.
Uma borboleta pousa em sua mão.
A plasticidade do silêncio
está
dentro
do mar
nos ruídos internos
do meu coração.
Nada mais será ontem.
Uma faísca tem o poder dos atalhos
e o teu olhar penetra
nos desavisados
deixo latejar tua risada
por todas as paredes do quarto.
Adormecer é quase estranho.


(ganhei de uma amiga, não sei o outor)
O Teatro Mágico entrada para raros
(Fernando Anitelli)


No inicio era o verbo... e o verbo era Deus...
e o verbo estava com Deus,
e já não eram sós , ambos conjugavam-se entre si,
discutiam quem seria a primeira e a segunda pessoa,
quem era verbo... quem era Deus,
a ação e a interpretação... quem era a parte e quem era o todo.
Deus (o pai, o filho e o espírito santo),
era também o verbo (regular e irregular)
e todos questionavam-se sobre quem seria o sujeito
e quem seria o predicado,
quem se conjugaria no pretérito e quem renunciaria
a forma "mais que perfeita"!

Deus era o verbo e o verbo era Deus,
conjugavam-se de maneira irregular... explicitando suas diferenças,
reconhecendo os fragmentos e os complementos
buscavam a medida certa
E assim... reconheceram-se uno...
Eu deus, tu deus, ele deus, nós deus, vós deus... eles deus
Somos dotados deste curioso poder,
mudamos nosso significado, nosso signo,
nosso comportamento e nossos conceitos
(que por sua vez chegam ate nós depois de se modificarem
muitas e outras vezes!)
temos uma ferramenta e tanto nas mãos, e nos pés...
Temos acorrentados nossos motivos de sobra pra relaxarmos
e acomodarmos com a vida que levamos agora...

O teatro mágico é o teatro do nosso interior...
a história que contamos todos os dias
e ainda não nos demos conta...
as escolhas que fazemos em busca dos melhores atos,
dos melhores sabores,
das melhores melodias e dos melhores personagens
que nos compõem,
as peças que encenamos e aquelas que nos encerram...
... nosso roteiro imaginário é a maneira improvisada
de viver a vida...
de sobreviver o dia, de ressaltar os tombos e relançar as idéias,
o teatro nosso de cada dia...

A saga dos pregadores.




O Fabuloso Destino de Amélie Poulain


quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

"O Gato Preto e o Maverick Branco"

Rufindo era seu nome de batismo. Ele saiu de casa pela manhã, de madrugada, manhã que já atropelava a noite. E no ímpeto da segurança, a triste segurança, com toda a segurança, antes de sair, trancafiou tudo o que lhe restava no recôndito do lar.
Morria de medo de ser assaltado.
Saiu de casa para o trabalho a percorrer veredas que passou sempre por toda a sua vida. Evitando sempre coisas que só a noite consegue oferecer.
Tudo bem que se diga que Rufindo era um rapaz macambúzio, desconfiado, sisudo até, mas, pensando bem, há muito tempo que na sua cidade todos tinham adquirido esses aspectos meio sombrios, portanto, Rufindo assim como o restante da população, estava naquela ampla faixa de normalidade em que todos prezam muito em estar. E por isso mesmo, consequentemente, muito religiosos e inevitavelmente supersticiosos.
No seu caso, era daqueles que evitavam passar por debaixo de escadas, se benzia esconjurando qualquer presságio, e com certeza, devia carregar um patuazinho e tudo mais que se reza.
No entanto ele, naquela manhã, saia de casa atropelando a manhã, que atropelava a noite que atropelava o tempo, esbaforido e controlado como sempre.
E como ainda restava uma última estrela no céu, Rufindo invertendo a ordem cronológica da simpatia, arranjou tempo de se concentrar na estrelinha matutina e trapacear três desejos para a estrela cansada e sair mais tranquilo pelas veredas que lhe sulcavam a vida.
Ávido por segurança (Rufindo era daqueles que confundiam felicidade com segurança completa) optava por uma margem de calçada que decidia ser mais segura, dependendo do movimento, que de uma forma ou de outra, era muito escasso.
Ia caminhando quando avistou, para seu profundo espanto e mal-estar, um gato preto aninhado na outra margem da calçada.
Imediatamente arrepiado, fez o sinal da cruz, esconjurou-se, e caiu num profundo dilema: no engasgo provocado por sua paranóia metafísica, Rufindo permanecia em dúvida se daria uma de vira-diogo batendo em retirada para uma ruela que aparecia logo antes do encontro com o animal ou, se num rompante de coragem e desprendimento, administraria o medo avançando na direção natural da vereda.
Na dor da incerteza, ou na pressa momentânea, ou mesmo no receio de trapacear mais uma vez a sorte, acabou optando por seguir em frente.
E pela primeira vez na vida, mesmo que movido por um profundo pavor, Rufindo foi corajoso. Apressou o passo, se aprumou nos sapatos, limpou o suor das mãos encharcadas e rumou em direção ao seu trabalho a passar pelo gato preto aninhado na outra margem da rua; porém ,com um truque em mente.
Enquanto o gato aninhado em suas patas o encarava do outro lado, ele pensou:
"Tudo o que não pode acontecer é esse maldito gato me cruzar o caminho. Para isso, tenho que tomar a dianteira bem no meio da rua para intimidá-lo. Assim será muito mais difícil dele cruzar a minha frente e sem cruzar a minha frente, eu estou salvo, sem essa de sete anos de azar, pé de pato bangalô, três vezes!"
De qualquer forma, com toda certeza, ele finalmente conseguiu afugentar o bicho que fugiu para os fundos do terreno baldio. Ele alcançou o final da quadra incólume!
Que alívio! Rufindo se benzia triunfante, deu uma piscadela para a estrelinha moribunda que se estava ainda no céu, era só de teimosia, beijou o patuá e dentro de suas possibilidades, conseguiu esboçar um nítido sinal de alegria ao dar uma assobiada, que mais parecia um suspiro.
Em meio aquele êxtase de covardia sublimada, como num átimo dentro do suspiro, Rufindo é abruptamente colhido, atropelado por um veículo em velocidade demencial. Para ser mais preciso, um Maverick branco, de tala larga vindo das profundezas da madrugada, como se estivesse evadindo do próprio tempo.
Até hoje ninguém sabe de onde veio aquela anacrônica viatura, quem estava dirigindo, se é que tinha realmente alguém na direção. Uns dizem que o Maverick era puro V8 em fúria espontânea. Um fenômeno raro, outros alegam ter sido simplesmente um playboy retardatário e bêbado; mas agora o que importa?
Não houve tempo para mais nada, não houve mais nada para Rufindo. Ele, feliz e confiante foi estraçalhado pelo Maverick branco, lançado como uma geléia disforme ao paralelepípedo, só lhe sobrando o último esgar de sorriso no que lhe restara de semblante. Não teve tempo para absorver o susto, prever o impacto nem provar do seu fim. Morreu confiante de sua confiança. Morreu feliz, por falta de oportunidade, por impossibilidade. Morreu sonhando que vencera a esquina do gato preto, e, vencido, por um Maverick branco, não deixou de ter um final simétrico.
Contudo, Rufindo e suas crenças devem agora ter alcançado o reino dos céus, mesmo não existindo mais nada além daquela estrelinha moribunda.
LOBÃO Jan/ 1999
Acredite Ou Não - Lenine
(Composição: Lenine e Braulio Tavares)
.
Deu raposa na cabeça
Deu bicho no pé do samba
Deu federa na muamba
Deu surfista na central
Deu entulho no canal
E no jornal deu a notícia
Que no cofre da polícia
Muita prova se escondeu
Estranho! Bizarro!
Tudo isso aconteceu,
Acredite, ou não... Inesperado!
Normal só tem você e eu
.
Metaleiros no Maraca
Japonês na Apoteose
Caretice no Panaca
Overdose no esperto
Tempestade no deserto
Maremoto na piscina
Rififi na Palestina
Bangue-bangue no Borel
Estranho! Bizarro!
Tudo isso aconteceu,
Acredite, ou não... Inesperado!
Normal só tem você e eu
.
Quando o mar não tá pra peixe
Jacaré vai de canoa
Quando a banda não é boa
Vai play-back e tudo bem
Nesta vida sempre tem
Uma surpresa de emboscada
Muita carta foi marcada
E muito jogo se perdeu
Estranho! Bizarro!
Tudo isso aconteceu,
Acredite, ou não... Inesperado!
Normal só tem você e eu

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O Mendoncinha

- Tente relaxar...
- Desculpe. É que tem uma parte de mim que, entende? Fica de fora, distanciada, assistindo a tudo. Uma parte que não consegue se entregar...
- Eu entendo.
- É como se fosse uma terceira pessoa na cama.
- Certo. É o seu superego. O meu também está aqui.
- O seu também?
- Claro. Todo mundo tem um. O negócio é aprender a conviver com ele.
- Se ele ao menos fechasse os olhos!
- Calma. Eu sei como você se sente. Nestas ocasiões, sempre imagino que a minha mãe está presente.
- A sua mãe?
- É. Ela também está conosco nesta cama.
- Você se analisou?
- Estou me analisando. Pensando bem, ele também está aqui.
- Quem?
- O meu analista. Nesta cama. Meu Deus, ao lado da minha mãe!!
- Meu pai está aqui...
- Seu pai também?
- Meu superego e meu pai.
- O superego e o pai podem ser a mesma pessoa. Será que um não acumula?
- Não, não. São dois. E não param de me olhar.
- Mas sexo é uma coisa tão natural!
- Diz isso pra eles.
- Na verdade, não é mesmo? Nem nós somos só nós. Eu sou o que eu penso que sou, sou como você me vê...
- E a gente também é o que pensa que é para os outros.
- Quer dizer: cada um de nós é, na verdade, três.
- Quatro, contando com o que a gente é mesmo.
- Mas o que que a gente é mesmo?
- Sei lá. Eu...
- Espere um pouco. Vamos recapitular. Do seu lado tem você - aí já são no mínimo três pessoas - o seu superego, o seu pai...
- Do seu lado, vocês três, a mãe de vocês e o analista.
- E o meu superego.
- E o seu superego.
- Mais ninguém?
- O Mendoncinha.
- Quem?!
- Meu primeiro namorado. Foi com ele que...
- Espera um pouquinho. O Mendoncinha não.
- Mas...
- Bota o Mendoncinha para fora desta cama.
- Mas...
- Ou sai o Mendoncinha, ou saímos eu e a minha turma!



Este texto está no livro Comédias da vida privada.

http://portalliteral.terra.com.br/verissimo/

Sonhei

Lenine

Sonhei e fui, sinais de sim,
Amor sem fim, céu de capim,
E eu olhando a vida olhar pra mim.
Sonhei e fui, mar de cristal,
Sol, água e sal, meu ancestral,
E eu tão singular me vi plural.
Sonhei e fui, num sonho à toa,
Uma leoa, água de Goa,
E eu rogando ao tempo: - Me perdoa
E eu rogando ao tempo: - Me perdoa
Sonhei pra mim, tanta paixão,
De grão em grão, verso e canção,
E eu tentando nunca ouvir em vão.
Sonhei, senti, sol na lagoa,Céu de Lisboa, nuvem que voa,
E um país maior que uma pessoa.
Sonhei e vim, mares de Espanha,
Terras estranhas, lendas tamanhas,
E eu subi sorrindo esta montanha.
E eu subi sorrindo esta montanha.
Sonhei, enfim, e vejo agora,
Beijo de Aurora, ventos lá fora,
E eu cantando a Deus e indo embora.
E eu cantando a Deus e indo embora.

As vitrines - Chico Buarque



Eu te vejo sumir por aí

Te avisei que a cidade era um vão

Dá tua mão, olha prá mim

Não faz assim, não vá lá, não

Os letreiros a te colorir

Embaraçam a minha visão

Eu te vi suspirar de aflição

E sair da sessão frouxa de rir

Já te vejo brincando gostando de ser

Tua sombra a se multiplicar

Nos teus olhos também posso ver

As vitrines te vendo passar

Na galeria, cada clarão

É como um dia depois de outro dia

Abrindo um salão

Passas em exposição

Passas sem ver teu vigia

Catando a poesia

Que entornas no chão