domingo, 28 de setembro de 2014


O Desfotógrafo - Eucanaã Ferraz

Vejo tudo agora diferente,
como se o tempo contra o rio
dirigisse e de trás pra frente
eu descrevesse um livro

e cada palavra nele se tornasse
livre e me fizesse livre
e sílaba sílaba toda memória
desaparecesse – sumisse! -

como se, na nossa frente, tudo
o que fomos um dia num passe
de mágica evaporasse num passe
de música, num passo – no ar!

Hoje tudo dá-se a ver sem dor,
limpo, sem um traço de paixão.
Os poemas se apagaram, e, repara
façamos um balanço: de nós

restou não mais que a folha livre
de depois do livro, retrato em
branco em branco.