quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Em 2010!

"Um marinheiro me contou
Que a boa brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
Um pescador me confirmou
Que um passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo
Ando cansado da lida
Preocupada, corrida, surrada, batida
Dos dias meus
Mas uma vez na vida
Eu vou viver a vida
Que eu pedi a Deus"

Bom Tempo - Chico Buarque

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

"Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina."

"Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão."

Paulo Freire

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009



Yves Klein

Le saut dans le vide (1960)

Performance. Rue Gentil-Bernard, Fontenay-aux-Roses, ottobre 1960.

PHOTO: Harry Shunk.

Marc Riboud







domingo, 20 de dezembro de 2009

+ de Clarice



"Meu Deus, me dê a coragem

Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços meu pecado de pensar."

Clarice Lispector


Picasso fotografado por Gjon Mili, em 1949.





sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Mais do mesmo

A foto que virou música parte 2

A foto que virou música 1

Birds on the Wires de Jarbas Agnelli da AD Studio




domingo, 13 de dezembro de 2009

sábado, 12 de dezembro de 2009

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Deus lhe pague - Chico Buarque

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos."

Clarice Lispector

E, para completar, ando tão controlada e ao mesmo tempo, um descontrole só...

domingo, 15 de novembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

domingo, 8 de novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Mais de James Nachtwey





James Nachtwey





Extracto con subtítulos incrustados en español del documental "War Photographer" dirigido por Christian Frei en la que el director siguió al fotógrafo James Nachtwey durante un periodo de dos años por los territorios de Kosovo, Indonesia, y Palestina para mostrar el modo en que el fotógrafo desarrolla su trabajo, su tenacidad y su profesionalidad.

El documental muestra una perspectiva única del modo de trabajar de Nachtwey gracias a una pequeña cámara adherida a su cuerpo, y muestra cómo el fotógrafo trabaja en condiciones de gran peligro. Por primera vez en la historia de documentales de fotógrafos, esta técnica permitió echar una auténtica mirada al interior del trabajo de un fotoperiodista. El programa también recoge los testimonios de compañeros y colegas de Nachtwey.

La película aparte de ganar numerosos premios internacionales fué nominada en el 2002 a los Oscar y en el 2004 a los Emmy.

James Nachtwey, el fotógrafo protagonista de este documental, en 2007 gana el premio TED, dotado con 100,000$ los cuales emplea para la realización de un proyecto para la lucha contra la tuberculosis, el XDR-TB (Extremely drug-resistant tuberculosis).

Gracias a este proyecto, Natchwey pretende acercar a todo el mundo la plaga de la tuberculosis, una enfermedad diagnosticable y curable, que cada 20 segundos mata a una persona en el mundo

youtube

domingo, 25 de outubro de 2009

Livro da Exposição que está em cartaz no Sesc Pinheiros. Fenomenal!

Medo

sábado, 17 de outubro de 2009

domingo, 11 de outubro de 2009

sábado, 10 de outubro de 2009














A areia da ampulheta - Braulio Tavares



Muita gente experimenta a sensação de que, à medida que os anos passam, vão ficando cada vez mais curtos. Tenho várias teorias para explicar este fato inusitado. Quando tínhamos dez anos de idade, um ano parecia uma coisa interminável, que não iria acabar nunca. Pensávamos nas férias de fim de ano e achávamos que quando elas chegassem estaríamos decrépitos, de barbas brancas. Hoje, doze meses passam assim: vupt! Quando a gente menos imagina, lá vem a Micarande de novo.

Leon Tolstoi tinha uma boa teoria, baseada nas proporções. Dizia ele: “Para um menino de cinco anos, um ano é 1/5 do tempo que ele experimentou, ou seja, é muita coisa. Para um velho de 80 anos, é apenas 1/80”. Faz sentido, porque corrobora uma verdade intuitiva que descobri sozinho: nossa mente desconhece o Passado e o Futuro, conhece apenas o Presente, e este corresponde à memória de todas as nossas experiências. Tolstoi aos 80 anos tinha um Presente com esta mesma extensão, quase incomensurável, mas o preço disto era que um ano, lá dentro, sumia de vista.

Há teorias segundo as quais os anos estão mais curtos devido a um processo astronômico qualquer, e que nossos calendários e a nomenclatura das quatro estações não correspondem mais às voltas da Terra em torno do Sol. Mas a Ciência discrepa.

Outra teoria diz: imagine uma ampulheta, um relógio-de-areia. A parte de cima está cheia de areia, a qual começa a escorrer, num filete fininho, pelo orifício, para se depositar na metade de baixo. A areia da parte de cima foi cuidadosamente nivelada, de modo que corresponde a um círculo colocado num plano horizontal. Este círculo é Um Ano (ou um dia, ou um mês, o que quisermos). Seu diâmetro depende de quê? Depende da quantidade de areia que resta para se escoar. À medida que lá embaixo a areia vai escoando, o volume total da parte de cima se reduz, a areia como um todo vai descendo, e o círculo plano da sua superfície vai se reduzindo em tamanho. O sujeito olha para o lado de repente e pensa: “Oi... Diminuiu?!”

Esta redução explica também a sensação que temos, ao longo da vida, de que o mundo vai ficando pequeno. As distâncias físicas diminuem, porque automóveis e aviões são mais rápidos. As distâncias psicológicas também, graças ao fax, ao DDD e DDI, à Internet, ao Skype. A cada encolhimento do Espaço, corresponde um encolhimento proporcional do Tempo. Se hoje a gente transpõe mil quilômetros num pulo, por que não transporia mil dias?

E a vida segue, construindo seus castelos numa areia que não pára de se escoar por um ralo invisível, numa hemorragia poenta, paciente e fatal. Daí a pouco o círculo de cima já está deste tamanhinho, e parece ainda menor pela quantidade de coisas que ali edificamos, planos, projetos, sonhos, tudo já se atravancando e se esbarrando num circulozinho cada vez menor; mas já nos acostumamos a ele, estamos ali há tantos anos que temos todo o direito de achar que ele vai permanecer ali ininterrupt
O Depressivo - Braulio Tavares

Uma vez eu conversava sobre Literatura com alguns amigos quando alguém foi na estante, pegou um livro de Dostoiévski, e comentou que certo conto foi escrito numa fase em que o autor estava muito deprimido, arrasado por problemas financeiros e de saúde, pensando em suicidar-se, etc. Eu folheei o livro (faz muitos anos, não lembro mais que livro era), li alguns trechos, e tentei imaginar que tipo de emoções depressivas resultariam numa prosa tão bem escrita quanto aquela. Pensei, com a irreverência sacrílega que me é tão espontânea: “Oxente, eu bem queria ter uma depressão e escrever desse jeito! Era lucro!”

Anos depois eu estava editando um livro e me deram para examinar uma “boneca”, uma prova do livro em seus primeiros estágios. A diagramação proposta e as ilustrações estavam todas lá, mas não o texto. Nos lugares que iriam ser ocupados pelo texto, havia apenas blocos inteiros de letras sem sentido, guardando o lugar. Eram apenas duas letras, repetidas aleatoriamente: nnoonn oooonn oooonnn nooooonnn ooo nnnooo nnonono ooono nonono nnnoo ooonono oonnoonnoo ooooonnn nono onon nonooo nnnooo nnonono oo... Acho que é uma convenção gráfica usar estas duas letras, e não jfjfjf, kwkwkw ou outras.

Naquela madrugada insone, olhando esse texto-fantasma, vi ali pela primeira vez um hipotético texto literário produzido por um escritor com depressão. Estava ali a mais aterrorizante força da Natureza: a Entropia, a perda de energia, a perda de significado, a perda da diferenciação. A Entropia é a progressão rumo ao que os cosmólogos chamam “a morte térmica do Universo”: o dia em que todas as estrelas terão esgotado seu combustível e o Universo inteiro será uma extensão indiferenciada, reta e uniforme como a linha horizontal de um eletrocardiograma numa UTI, quando o coração pára de bater, pára de fazer a linha luminosa no mostrador dar aqueles pulinhos ritmados, e avança numa direção só: piiiii...

Texto produzido pela depressão, o de Dostoiévski? Besteira. Aquilo ali é a cura da depressão. Ler pessimistas como Kafka, Cioran, Albino Forjaz de Sampaio, cura a depressão de qualquer pessoa. O que deveria nos aterrorizar é a ausência de idéias, de emoções, de palavras, de sentido. Quem assistiu “O Iluminado” de Kubrick (ou leu o livro de Stephen King) deve lembrar a cena mais apavorante do filme. Jack Torrance, o protagonista, está endoidecendo aos poucos, mas todo dia senta na máquina e passa horas escrevendo um romance. A certa altura, a mulher dele pega aquelas centenas de folhas escritas, e vê que em todas elas há apenas uma frase, repetida obsessivamente: “All work and no play makes Jack a dull boy” (“Só trabalhar, sem se divertir, faz de Jack um menino deprimido”). Esta única frase, de cima a baixo, ao longo de centenas de páginas, depois de semanas de trabalho. Aquele sujeito, sim, está a um passo do zero absoluto, está a um passo de ser capaz de escrever apenas: nononono nnnoonnoo ooooonno ooooooo...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009


Aula de Vôo


O conhecimento
Caminha lento feito lagarta.
Primeiro não sabe que sabe
E voraz contenta-se com cotidiano orvalho
Deixado nas folhas vividas das manhãs.
Depois pensa que sabe
E se fecha em si mesmo:
Faz muralhas,
Cava trincheiras,
Ergue barricadas.
Defendendo o que pensa saber
Levanta certeza na forma de muro,
Orgulha-se de seu casulo.
Até que maduro
Explode em vôos
Rindo do tempo que imagina saber
Ou guardava preso o que sabia.
Voa alto sua ousadia
Reconhecendo o suor dos séculos
No orvalho de cada dia.
Mas o vôo mais belo
Descobre um dia não ser eterno.
É tempo de acasalar:
Voltar à terra com seus ovos
À espera de novas e prosaicas lagartas.
O conhecimento é assim:
Ri de si mesmo
E de suas certezas.
É meta de forma
Metamorfose
Movimento
Fluir do tempo
Que tanto cria como arrasa
A nos mostrar que para o vôo
É preciso tanto o casulo
Como a asa

Mauro Iasi

domingo, 27 de setembro de 2009

sábado, 26 de setembro de 2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

sábado, 12 de setembro de 2009

Deus e o mundo


Atribui-se a Einstein uma frase (não lembro o teor exato, mas o sentido é este) dizendo que acreditar na existência de Deus não significa negar a do Universo. E Jorge Luís Borges dizia espantar-se com a importância exagerada que a maioria das religiões atribuía aos nossos parcos anos sobre a Terra, porque cabia a eles determinar se passaríamos a Eternidade no paraíso ou no inferno. Em todos os sistemas de Fé parece haver uma tensão constante, com re-aproximações e re-afastamentos, entre o conceito de Deus e o do Mundo, como se este fosse imperfeito demais para ter sido criado por aquele, ou como se a existência daquele nos desobrigasse de explicar o que acontece neste.

O cientista, o cara que não acredita em Deus, fica muitas vezes preso a um racionalismo minucioso, microscópico, e perde a visão de conjunto. É como um sujeito que diante de um texto escrito se detivesse diante da primeira letra, um B, e começasse a pensar: “O que significa esta letra? Como chegou aqui? Quem a colocou? Com que intenção?” Ele passa a vida inteira nessa letra, depois dedica-se à segunda, depois à terceira, e nunca lhe ocorre soletrar a palavra.

Conan Doyle tem um conto divertido, “A esposa de um fisiologista”, sobre um desses cientistas empedernidos, materialistas até a medula, o dr. Ainslie Grey. Há uma cena em que ele está tomando o café da manhã com sua irmã Ada, uma moça religiosa. E eles têm este breve diálogo: “—Você não tem fé, disse ela. – Tenho fé nas grandes forças evolutivas que estão conduzindo a espécie humana a uma determinada meta, desconhecida, porém elevada. – Você não acredita em coisa alguma. – Ao contrário, minha querida Ada: acredito na diferenciação do protoplasma”.

Reli este conto agora, e lembrei que, tendo-o lido pela primeira vez por volta dos dez anos de idade, ele deve ter sido uma influência decisiva na minha opção precoce pelo agnosticismo. Quando alguém me perguntava se eu acreditava em Deus, eu dizia que sim, porque não era idiota, mas pensava comigo mesmo: “Acredito na diferenciação do protoplasma”. Não me perguntem o que é isto. Ainda hoje não sei.

Ou melhor: vou arriscar, sem consultar livro algum. Imagino que protoplasma seja uma espécie de substância biológica primordial, mas uma substância uniforme, estática. No momento em que houve algum tipo de diferenciação (a diferenciação dos sexos, por exemplo) isto desencadeou uma série de processos evolutivos que levaram ao surgimento dos protozoários, amebas, peixes, mamíferos, primatas e finalmente humanos. Parece absurdo? Leiam Augusto dos Anjos.

Para alguns, é mais fácil acreditar na existência do átomo (que nunca vimos e jamais veremos) do que na de Deus, e vice-versa. Tudo depende das razões emocionais que nos levam a aceitar esta explicação, e não aquela. Mas para alguns basta contemplar o Universo para acreditar em Deus, e basta ver um casal de mãos dadas para agradecer aos céus pela diferenciação do protoplasma.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

" SEM A CURIOSIDADE QUE ME MOVE, QUE ME INQUIETA, QUE ME INSERE NA BUSCA,NÃO APRENDO, NEM ENSINO."


PAULO FREIRE


domingo, 6 de setembro de 2009

sábado, 5 de setembro de 2009


Sutilmente - Skank

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
Quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce

Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti

Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce

Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti

Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti

terça-feira, 1 de setembro de 2009

sábado, 22 de agosto de 2009

O Procrastinador (18/01/2007)
Braulio Tavares

Um cara me contratou para redigir um texto. Era no início do mês, e ele me disse: "Basta entregar no dia 31". Trabalho fácil, que eu faria em menos de uma semana. Passei o mês inteiro me roendo de remorsos por não estar fazendo. Doía o fígado, doía o baço, doía a cabeça. Tomei remédios, li meia dúzia de livros para "entrar no clima", passei dias na Internet sob o pretexto de "estar pesquisando". Na tarde do dia 30, exaurido, cheio de olheiras, e com tremores pelo corpo inteiro, sentei ao teclado e produzi doze laudas de texto que no dia seguinte foram elogiadas pelo contratante, que declarou: "Meu Deus, eu não conseguiria escrever isto nem que passasse um ano tentando!"

O Procrastinador é aquele cara que tem a intenção de fazer o trabalho, está precisando do dinheiro, sabe que tem condições de atender a encomenda, mas uma força cega e inexplicável o bloqueia. O medo de começar faz o Procrastinador inventar tarefas caídas do céu. Tem que consertar o chuveiro, tem que levar o lixo para fora, tem que comprar café que acabou, tem que levar o cachorro pra passear. Como no Paradoxo de Zenão, antes da tarefa principal há sempre uma tarefa secundária a ser cumprida, e antes desta outra, e antes desta mais outra. Até o infinito. Em meu livro O Anjo Exterminador (Rocco), analisei este processo no capítulo "Os infortúnios da vontade".

Piers Steel, professor de psicologia da Universidade de Calgary, fez um levantamento da literatura científica sobre o vício do adiamento, do deixar-para-mais-tarde. Algumas estatísticas são curiosas. Uma firma que prepara declarações de imposto de renda diz que cada cliente perde em média 400 dólares por ano devido a erros nas declarações, feitas às pressas no último dia do prazo. Dois terços dos doentes de glaucoma ficam cegos porque não usam o remédio com regularidade.

Steel concebeu uma equação para descrever o Efeito Procrastinador. Ele usou um conceito econômico chamado "desconto hiperbólico" (hyperbolic discounting), nossa tendência a considerar que pequenos lucros imediatos são melhores do que lucros maiores a longo prazo. Combinou isto com uma teoria motivacional chamada "teoria da expectativa" (expectancy theory). Sua fórmula é esta: Utilidade = E x V / Gama D. "Utilidade" é a desejabilidade geral de conclusão da tarefa. "E" significa expectativa positiva, confiança. "V" é o valor do trabalho, e pode ser um valor positivo ou negativo. "Gama" é o cálculo básico da tendência da pessoa a atrasar seus compromissos. E "D" quer dizer demora (delay), ou quanto tempo vai levar para que surjam as conseqüências positivas ou negativas de fazer ou não fazer o trabalho. Portanto, quando o contratante ligar, é só explicar a ele que um incremento monetário em "V" pode elevar "E" e deflacionar "Gama", para que os dois efeitos combinados provoquem um aumento em "Utilidade". Se a Ciência não adiantar, meu amigo, o jeito é ir no terreiro e mandar bater bombo.



Mais textos do autor: Mundo Fantasmo
Saudade de ouvir chorinho. Saudade de Pedacinhos do céu!


quarta-feira, 5 de agosto de 2009








Depois de dedicar 20 anos de sua carreira à fotografia de paisagens, o americano Robert Buelteman descobriu uma nova maneira de registrar a natureza: utilizar eletricidade para iluminar folhas e flores, em uma técnica que dispensa o uso da câmera e de lentes.

Para obter as 80 imagens que compõem a série Through the Green Fuse ("Através do fusível verde"), o fotógrafo utiliza instrumentos cirúrgicos para posicionar as plantas sobre uma mesa transparente, e em seguida posiciona uma matriz metálica, na qual estão o filme e uma emulsão fotográfica. O conjunto é, então, ligado a uma fonte elétrica.

Em um quarto escuro, ele então aciona a eletricidade de altíssima voltagem, que pode vir de fontes como o tungstênio, o xenônio ou fibras ópticas.

"Esta técnica tem mais semelhanças com a tradicional pintura japonesa a nanquim do que com as atuais formas de fotografia", diz Buelteman. "Cada entrada de luz, assim como cada pincelada na pintura, não foi ensaiada. E uma vez, liberada, não pode ser desfeita."

'Fragilidade da vida'

Em entrevista à BBC Brasil, Buelteman contou que a ideia para esta série surgiu em 1999, depois que ele perdeu quatro familiares vítimas de câncer.

"Sempre tive vontade de encontrar a minha voz para expressar a beleza, o equilíbrio e a harmonia que eu vejo na natureza", afirmou. "Com a perda de meus parentes, me senti mais determinado ainda a expressar a beleza e a fragilidade da vida."

A técnica utilizada pelo americano se inspira no método que ficou conhecido como fotografia Kirlian, ou Kirliangrafia, desenvolvido pelo cientista russo Semyon Kirlian. A técnica também é chamada de bioeletrografia.

"Com a adição de aparelhos de fibra óptica para conseguir um maior controle sobre a exposição de luz sobre a matriz, este trabalho representa também uma nova interpretação de uma forma de arte honrada há tempos", diz Buelteman.

As imagens do fotógrafo estão reunidas no livro Signs of Life ("Sinais da Vida"), lançado nos Estados Unidos.

BBc