Há um tempo atrás ouvi que as pessoas aprendem através de diferentes canais. Cada um tem um sentido mais apurado, a visão para alguns, o tato, o olfato, a audição e a degustação para outros, é preciso identificar o canal de cada um para então ensinar. Uns são mais comuns, outros nem tanto e eu tenho levado isso para a sala de aula. Percebo alguns desses caminhos muito fortes entre as crianças e percebo em mim também. Canais que me sensibilizam e me fazem aprender, crescer.
O mais forte em mim é a visão. Há anos ouço de diferentes pessoas que tenho um jeito observador, que vejo muito além, mas também tenho um grande defeito: muitas vezes guardo esta observação só pra mim. Algo a ser trabalhado.
Mas esse olhar observador me levou para a fotografia. Fico fascinada com as formas, cores, luzes, contornos e possibilidades.
“A linguagem da fotografia é a linguagem do ver. Do visto. O que, afinal, um fotógrafo expressa é o seu modo de ver o mundo. E podemos ver com mais ou menos inteligência, com mais ou menos sensibilidade, com mais ou menos originalidade, mais ou menos espontaneidade.
Ver é um ato intencional e criativo, exige vontade e motivação interior. Geralmente os fotógrafos são pessoas que se deleitam com o ver. Ver com profundidade significa compreender…”
Encantada por essa linguagem, totalmente ligada ao olhar, comecei a fazer ligações entre as duas áreas, fotografia e educação.
Há 13 anos trabalho com Educação e há 13 anos sou fascinada pelo ato de educar, trabalhar com crianças, participar do processo de construção do conhecimento de várias pessoas e com isso, a cada ano que passa, vou crescendo, me transformando e aprendendo cada vez mais.
A minha paixão pela educação está entre muitas coisas, pelo olhar. Esse olhar de bruxo que nós temos, capaz de florescer ou murchar um aluno. Um olhar ora intuitivo e na grande maioria das vezes, e ainda bem que é assim, um olhar cheio de intenção.
No dia-a-dia da sala de aula o olhar está presente. É o instrumento fundamental para as intervenções, trabalhar as diferentes situações do cotidiano, sejam elas pedagógicas ou emocionais. É com olhar que damos o primeiro passo para o vínculo, é com o olhar que descobrimos o grupo, seus encantos e suas dificuldades, é com olhar, observação e tato que vivemos e convivemos com o outro.
“Não vemos, porém, apenas com os nossos olhos. Podemos fazê-lo com a totalidade do nosso ser. Ver é sempre dinâmico. Reconhece e descobre objetos. Cria relações e atribui significados. Projeta nossas fantasias, evoca nossos sentimentos e provoca reações. Reagimos: fotografamos…
…A fotografia nasce da capacidade de maravilharmo-nos, de encontrar sentido, de deixarmo-nos tocar por aquilo que vemos…”
(trechos do texto: A linguagem fotográfica de Clóvis Loureiro)
Assim como na educação, para fotografar é preciso sensibilidade. O paralelo que traço entre as duas áreas está neste ponto.
Sem sensibilidade as fotos e o trabalho se tornam mecânico, sem emoção e na minha concepção de educação isso não é possível.
Olhar para o céu, observar a coloração, as nuvens, as formas e com a máquina registrar esse olhar me traz a mesma sensação de quando faço uma intervenção acertada com as crianças.
Para intervir é preciso observar, para fotografar também. Para atuar na educação é preciso estudo, empenho, tato, sensibilização e para fotografar também.
Além dessa ligação, uma pode estar a serviço da outra. Nos registros, no modo ver, nas apresentações, nos alimentos estéticos e assim por diante.
É só apurar o olhar…
Carla Zavatieri
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