Sempre tive receio de deixar aqui registrado coisas que penso e sinto sobre determinadas obras. Por insegurança ou preguiça. Talvez as duas coisas.
Apesar da fotografia ser o meu instrumento de trabalho, reflexão e também criação, não é só ela que me inspira.
Outro dia me perguntaram como a arte entrou em minha vida e de fato foi graças a educação. A profissão que me rege. É forte, eu sei, mas é isso. Sou educadora! Não nasci, mas cresci assim.
A fotografia veio como um fôlego dentro desta profissão tão inquietante, impactante e sofrida.
Há muito sofrimento no ato de educar. Sofrimento quase que diário. Sofrimento do educador e do educando.
Madalena Freire tem um livro chamado Educador que na própria capa brinca com as palavras: Educador, educa a dor.
Sim, educar é trabalhar com a dor. Aquela que incomoda quando precisamos lidar com o sistema tão irritantemente precário. Quando precisamos lidar com diferenças gritantes nos valores e formas de pensar. Diferenças que não agregam e sim competem. Que vão contra a a ideia de educar.
Mas também é lidar com o crescimento, dolorido e tão bonito. Crescer que envolve morrer todos os dias. Morrer, matar, renascer.
É um processo lindo, mas pesado. É por isso que precisei do fôlego e na fotografia o encontrei.
Ser fotógrafo também não é fácil. É uma profissão que lida com a estética, com a discussão do belo, mas por outro lado também nos faz entrar em contato com o contrário.
Para quem como eu adora uma reflexão, essas profissões me enchem de tanto pensar.
Ultimamento o pensamento transborda em todos os sentidos.
Conhecimento é poder e também responsabilidade.
Hoje em dia esse conhecimento é dividido num prazer enorme de aprender, numa sede de saber mais e mais... mas também num peso, no questionamento diário: o que faço com tudo isso?
Na educação me encontrei, na fotografia me revelei, mas na arte mergulhei. Arte como meio de reflexão, de criação e construção. Arte como fonte de inspiração e também como forma de tocar o outro. Construir pontes para diálogos, ligações para reflexão e corpo para um crescimento forte. Enquanto pessoa, enquanto coletivo, enquanto gente.
Carla Zavatieri
* Texto que nasceu depois de três dias de encontros, diálogos e de muito ouvir, com diferentes pessoas em diferentes lugares.