sábado, 25 de junho de 2011

O país dos sonhos 


Era um imenso acampamento ao ar livre. Das cartolas dos magos  brotavam alfaces cantoras e pimentões luminosos, e por todas as partes havia gente  oferecendo sonhos para trocar. Havia os que queriam trocar um sonho de viagem  por um sonho de amores, e havia quem oferecesse um sonho para rir a troco de um  sonho para chorar um pranto gostoso.
Um senhor andava ao léu buscando os pedacinhos de seu sonho,  despedaçado por culpa de alguém que o tinha atropelado: o senhor ia recolhendo os  pedacinhos e os colava e com eles fazia um estandarte cheio de cores.
O aguadeiro de sonhos levava água aos que sentiam sede enquanto  dormiam. Levava a água nas costas, em uma jarra, e a oferecia em taças altas.
Sobre uma torre havia uma mulher, de túnica branca, penteando a cabeleira, que chegava aos seus pés. O pente soltava sonhos, com todos seus personagens: os sonhos saíam dos cabelos e iam embora pelo ar.

Eduardo Galeano - O LIVRO DOS ABRAÇOS

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