sábado, 12 de março de 2011

Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
-que é uma questão
de vida ou morte-
será arte?

Ferreira Gullar

3 comentários:

Nati Tazinazzo disse...

adoro!!!

www.janelasacesas.blogspot.com

Nati Tazinazzo disse...

estes desabafos são ótimos, eu to mto nessa fase bélica!!!Mas concordo que a ignorância parece às vezes ser o canal, porque responsabilidade sem atitude é um sofrimento danado, que fere por dentro. O que fazer? quem é sujeito numa sociedade de sujeitados?

Carla disse...

Nossa, Nati, tá aí uma boa pergunta. Quem é sujeito numa sociedade de sujeitados?