domingo, 30 de maio de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
quarta-feira, 19 de maio de 2010
O Retrato de Dorian Gray - Prefácio
O artista é o criador de coisas belas.
Revelar a arte e ocultar o artista é o objetivo da arte.
O crítico é aquele que sabe traduzir de outra maneira ou com material diferente a sua impressão das coisas belas.
A mais alta, assim como a mais baixa, forma de crítica é uma autobiografia.
Aqueles que encontram feias significações nas coisas belas são corruptos sem serem encantadores. É um defeito.
Aqueles que encontram belas significações nas coisas belas são cultos. Para esses há esperança.
São os eleitos aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza.
Não há livros morais nem imorais. Os livros são bem ou mal escritos. Nada mais.
A antipatia do século XIX pelo Realismo é a raiva de Calibã ao ver seu rosto no espelho.
A antipatia do século XIX pelo Romantismo é a raiva de Calibã por não ver seu rosto no espelho.
A vida moral do homem faz parte do assunto do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito dum meio imperfeito. O artista nada deseja provar. Até as coisas verdadeiras podem ser provadas.
Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um imperdoável maneirismo de estilo.
O artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo.
O pensamento e a linguagem são para o artista instrumento de arte.
O vício e a virtude são para o artista materiais de arte.
Sob o ponto de vista da forma, o modelo de todas as artes é a arte do músico.
Sob o ponto de vista do sentimento, o modelo é a profissão do ator.
Toda a arte é ao mesmo tempo superfície e símbolo. Os que buscam sob a superfície fazem-no por seu próprio risco.
Os que procuram decifrar o símbolo correm também seu próprio risco.
É o espectador, e não a vida, que a arte realmente reflete.
A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte mostra que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos divergem, o artista está de acordo consigo mesmo.
Pode-se perdoar a um homem o fazer uma coisa útil, contanto que não a admire. A única desculpa de haver feito uma coisa inútil é admirá-la intensamente.
Toda a arte é absolutamente inútil.
domingo, 16 de maio de 2010
"Uma foto é um vestígio. Mas um vestígio de que? Daquilo que se quis fotografar ou do que foi fotografado sem premeditação, sem vontade, sem desejo? Do objeto em si ou de um simples fenômeno? Do fotografável ou do infotografável? Mas por que não também um vestígio do sujeito que fotografa ou do ato fotográfico, da ação fotográfica ou do metafotográfico? Um vestígio do ponto de vista ou do enquadramento? Ou por que não um vestígio do passado? Mas de que passado? O do objeto a ser fotografado ou o da foto? O do sujeito que fotografa, o do sujeito fotografado, ou do sujeito que olha a foto? Um vestígio de tudo isso ao mesmo tempo?"
(François Soulages)
(François Soulages)
quarta-feira, 12 de maio de 2010
quarta-feira, 5 de maio de 2010
O som que embala minhas imagens...
Transformar o som em imagem, a imagem em som...
Outra letra de música que me inspira. Outra foto que eu quero fazer...
Outra letra de música que me inspira. Outra foto que eu quero fazer...
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Criança não é burra (26.7.2009)
Se Lewis Carroll fosse vivo hoje e mandasse Alice in Wonderland para 50 editores de livros infantis, seria recusado por todos. Não quero dizer que os editores são burros, mas que ninguém sabe o que vai fazer sucesso. “Sucesso” envolve tantos fatores combinados que é a melhor maneira de assegurá-lo é cruzando os dedos, batendo na madeira e beijando um pé-de-coelho – coelho branco, de preferência. Alice fez sucesso entre crianças britânicas, com acesso a uma educação razoável, num mundo em que a leitura era, se não a única diversão, pelo menos a mais excitante e acessível nos longos meses de inverno, por exemplo. O resto foi bola de neve.
Não sabemos o que criança gosta. No Brasil, onde a literatura infantil sustenta centenas de pais e mães de família, a toda hora tem alguém batendo com a mão na testa e exclamando “Eureka!” Idéias brilhantes chegam diariamente via Sedex às editoras. Às vezes um editor concorda com entusiasmo. Arregaça as mãos, joga no mercado uma tiragem de 5 mil cópias... e frequentemente dá com os burros nágua. As crianças naquele ano estão querendo outra coisa. Qual? Não sei, nem J. K. Rowling sabe. Cada um joga na mesa as cartas que tem, cruza os dedos, etc.
Cinema é a mesma coisa. Cada roteiro de desenho da Disney/Pixar passa pelo pente fino de 30 mil especialistas: “Isso pode, isso não pode”. Os filmes acabam todos dando lucro, porque a técnica deles é fabulosa, e a máquina de divulgação é um Leviatã de cinco mil bocas. Mas alguns dão dez vezes mais lucro do que outros. Por que? O Leviatã tem cinco mil explicações, o que monta a nenhuma.
Uma das coisas mais inteligentes e perceptivas sobre o assunto foi dita recentemente pelo diretor francês Michel Ocelot, autor dos filmes de animação Kiriku e a feiticeira (1998) e Azur e Asmar (2006). Vi o primeiro desses filmes, um belo desenho de longa-metragem ambientado na África. Perguntado sobre como se deve fazer um filme para crianças, Ocelot, que está no Brasil para o festival Anima Mundi, respondeu: “Existe apenas uma regra para se fazer filmes para crianças: nunca fazer um filme para crianças. Um filme feito com a preocupação de que tudo seja compreendido por crianças não é apenas um filme ruim, mas é uma atitude equivocada. O trabalho de uma criança deve ser aprender, aprender e aprender mais. Para ela, quase tudo o que aparece na sua vida é novidade, e não compreender as coisas faz parte de seu cotidiano. A criança não se afasta completamente de uma história por não a ter entendido. Entre as novidades que surgem, haverá detalhes que ela compreenderá, porque suas mentes são muito espertas e ativas. Há coisas que ela adivinha. E há coisas, claro, que ela não entende mesmo, mas que guarda estocada no cérebro para usar no futuro”.
Isto é de uma lucidez notável. A criança aceita não entender uma coisa; é parte do seu cotidiano. Se na história que lê existir luz, ela aceitará que também existam zonas de sombra.
Não sabemos o que criança gosta. No Brasil, onde a literatura infantil sustenta centenas de pais e mães de família, a toda hora tem alguém batendo com a mão na testa e exclamando “Eureka!” Idéias brilhantes chegam diariamente via Sedex às editoras. Às vezes um editor concorda com entusiasmo. Arregaça as mãos, joga no mercado uma tiragem de 5 mil cópias... e frequentemente dá com os burros nágua. As crianças naquele ano estão querendo outra coisa. Qual? Não sei, nem J. K. Rowling sabe. Cada um joga na mesa as cartas que tem, cruza os dedos, etc.
Cinema é a mesma coisa. Cada roteiro de desenho da Disney/Pixar passa pelo pente fino de 30 mil especialistas: “Isso pode, isso não pode”. Os filmes acabam todos dando lucro, porque a técnica deles é fabulosa, e a máquina de divulgação é um Leviatã de cinco mil bocas. Mas alguns dão dez vezes mais lucro do que outros. Por que? O Leviatã tem cinco mil explicações, o que monta a nenhuma.
Uma das coisas mais inteligentes e perceptivas sobre o assunto foi dita recentemente pelo diretor francês Michel Ocelot, autor dos filmes de animação Kiriku e a feiticeira (1998) e Azur e Asmar (2006). Vi o primeiro desses filmes, um belo desenho de longa-metragem ambientado na África. Perguntado sobre como se deve fazer um filme para crianças, Ocelot, que está no Brasil para o festival Anima Mundi, respondeu: “Existe apenas uma regra para se fazer filmes para crianças: nunca fazer um filme para crianças. Um filme feito com a preocupação de que tudo seja compreendido por crianças não é apenas um filme ruim, mas é uma atitude equivocada. O trabalho de uma criança deve ser aprender, aprender e aprender mais. Para ela, quase tudo o que aparece na sua vida é novidade, e não compreender as coisas faz parte de seu cotidiano. A criança não se afasta completamente de uma história por não a ter entendido. Entre as novidades que surgem, haverá detalhes que ela compreenderá, porque suas mentes são muito espertas e ativas. Há coisas que ela adivinha. E há coisas, claro, que ela não entende mesmo, mas que guarda estocada no cérebro para usar no futuro”.
Isto é de uma lucidez notável. A criança aceita não entender uma coisa; é parte do seu cotidiano. Se na história que lê existir luz, ela aceitará que também existam zonas de sombra.
Assinar:
Postagens (Atom)