Braulio Tavares
Um cara me contratou para redigir um texto. Era no início do mês, e ele me disse: "Basta entregar no dia 31". Trabalho fácil, que eu faria em menos de uma semana. Passei o mês inteiro me roendo de remorsos por não estar fazendo. Doía o fígado, doía o baço, doía a cabeça. Tomei remédios, li meia dúzia de livros para "entrar no clima", passei dias na Internet sob o pretexto de "estar pesquisando". Na tarde do dia 30, exaurido, cheio de olheiras, e com tremores pelo corpo inteiro, sentei ao teclado e produzi doze laudas de texto que no dia seguinte foram elogiadas pelo contratante, que declarou: "Meu Deus, eu não conseguiria escrever isto nem que passasse um ano tentando!"
O Procrastinador é aquele cara que tem a intenção de fazer o trabalho, está precisando do dinheiro, sabe que tem condições de atender a encomenda, mas uma força cega e inexplicável o bloqueia. O medo de começar faz o Procrastinador inventar tarefas caídas do céu. Tem que consertar o chuveiro, tem que levar o lixo para fora, tem que comprar café que acabou, tem que levar o cachorro pra passear. Como no Paradoxo de Zenão, antes da tarefa principal há sempre uma tarefa secundária a ser cumprida, e antes desta outra, e antes desta mais outra. Até o infinito. Em meu livro O Anjo Exterminador (Rocco), analisei este processo no capítulo "Os infortúnios da vontade".
Piers Steel, professor de psicologia da Universidade de Calgary, fez um levantamento da literatura científica sobre o vício do adiamento, do deixar-para-mais-tarde. Algumas estatísticas são curiosas. Uma firma que prepara declarações de imposto de renda diz que cada cliente perde em média 400 dólares por ano devido a erros nas declarações, feitas às pressas no último dia do prazo. Dois terços dos doentes de glaucoma ficam cegos porque não usam o remédio com regularidade.
Steel concebeu uma equação para descrever o Efeito Procrastinador. Ele usou um conceito econômico chamado "desconto hiperbólico" (hyperbolic discounting), nossa tendência a considerar que pequenos lucros imediatos são melhores do que lucros maiores a longo prazo. Combinou isto com uma teoria motivacional chamada "teoria da expectativa" (expectancy theory). Sua fórmula é esta: Utilidade = E x V / Gama D. "Utilidade" é a desejabilidade geral de conclusão da tarefa. "E" significa expectativa positiva, confiança. "V" é o valor do trabalho, e pode ser um valor positivo ou negativo. "Gama" é o cálculo básico da tendência da pessoa a atrasar seus compromissos. E "D" quer dizer demora (delay), ou quanto tempo vai levar para que surjam as conseqüências positivas ou negativas de fazer ou não fazer o trabalho. Portanto, quando o contratante ligar, é só explicar a ele que um incremento monetário em "V" pode elevar "E" e deflacionar "Gama", para que os dois efeitos combinados provoquem um aumento em "Utilidade". Se a Ciência não adiantar, meu amigo, o jeito é ir no terreiro e mandar bater bombo.
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