quinta-feira, 2 de abril de 2009

Falando sobre fotografia II

Poucos são os que gostando de fotografia, praticantes ou não, nunca ouviram falar no "momento decisivo". Este conceito, construído por Henri Cartier-Bresson, define o momento em que os elementos presentes numa cena se combinam de modo a tornar aquela fração de tempo a síntese do fato. O fotógrafo atento deve aproveitar este "momento decisivo" para, em registrando-o, traduzir em imagem o acontecimento. Por isso o ato de fotografar não deve nem pode ser uma atividade passiva. O fotógrafo não pode ser uma mera testemunha dos fatos. Ele tem que acompanhar, perceber, antecipar, compreender, contextualizar o que está acontecendo ao seu redor, sob pena de ser simplesmente um ilustrador sem brilho da mensagem de terceiros.

Poucos são os que, também, nunca ouviram esta frase: "Uma fotografia vale por mil palavras". Ela pode ser verdadeira se o autor da fotografia, manejando de modo competente a sintaxe de sua linguagem, passar informações correspondentes às tais "mil palavras". Mas para isso deve, em primeiro lugar, saber o que quer dizer, qual a mensagem a ser transmitida. Para tanto, repito, não pode ser passivo em relação ao mundo e à vida.

Viver não tem nada de passivo. Viver é perceber a realidade e pensá-la, gerando conhecimento, na definição de que "conhecimento é a realidade pensada".

Fotografar é um modo de viver. Exige comprometimento integral e, também, exige integridade (viver de acordo com seus princípios). Ultimamente ando pensando muito nesta palavra: "comprometimento". Estar "comprometido" com o ato de fotografar... Uma das conclusões a que cheguei foi que quando se está comprometido com alguma coisa ou com alguém, deve-se avaliar mais o que você próprio está proporcionando ao objeto do seu comprometimento, do que o que você está recebendo dele. O comprometimento é unilateral, a recíproca é uma conseqüência sobre a qual você não tem controle. Estar comprometido com a vida é o primeiro e fundamental passo para a felicidade, mas não garante a ninguém um desfilar interminável de dias risonhos. Estar comprometido com a fotografia é o primeiro e fundamental passo do fotógrafo para captar e traduzir o espírito do mundo em imagens, mas não garante a ninguém o reconhecimento alheio. Daí a importância da integridade. Viver comprometido com seus princípios, simplesmente porque eles são os seus princípios.

Este texto foi publicado na coluna "Falando de Fotografia", da revista Atelier, n º 90, de março de 2005.

Luiz Ferreira é jornalista, fotógrafo "free-lancer",
criador e editor da revista "Espaço Photo",
colunista da revista "Atelier - Guia de Artes Plásticas",
Vice-Presidente e Diretor de Comunicação da ABAF


http://www.confoto.art.br/artigos03.php

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