segunda-feira, 27 de abril de 2009
domingo, 26 de abril de 2009
Parace que foi ontem. Arrumei as malas e desapareci. Deixando trás todas as pessoas do mundo. As chatas, as acéfalas e também as tediosas. Pois todas elas escondiam espinhos em suas falas, em seus olhares e em seus gestos. E nunca fui boa em desviar de farpas, quiça espinhos. Arrumei as malas e desapareci. A casa da árvore, então, me acolheu. Figura onírica de minha infância, era a casa. Do alto dela, eu imaginava a preocupação de todos ao darem por meu sumiço. Mas, com o passar do tempo, calculei que se acostumariam com minha ausência. A tudo se acostuma. E, pendurada nesta casa, guardei meus slêncios, meus escritos, minhas dores e meus documentos. Fiz do quarto esconderijo para minha esquisitisse, minhas calcinhas e meus sonhos. E ninguem precisa saber das luzes da minha casa. Quando acendo, quando apago e quando as faço piscar. Ninguem precisa saber da minha demencia, da minha falta de tato, das minhas insonias e das minhas compulsões. Realmente ninguem precisa. E nenhuma outra casa, assim como nenhuma outra árvore, me acolherá da mesma forma que esta me acolhe. Porque esta é minha e me cabe como nenhuma outra jamais me coube. Com o passar do tempo me acostumei a viver sozinha. A tudo se acostuma. E do alto desta casa muita coisa se fez clara. E durante tantos anos, observando as mais variadas flores do mundo, do canto da minha janela, percebi que todas elas traziam consigo alguns espinhos. E nunca fui boa em desviar de farpas, quiça espinhos. Mas, com o passar do tempo, me acostumei a conviver com eles. Foi então que entendi que flores e pessoas podem ter muita coisa em comum. E que a tudo pode-se acostumar. Bastar, com o passar do tempo, aprender a lidar. Parace que foi ontem. Arrumei as malas e desapareci. Deixando pra trás todas as pessoas do mundo. As adoráveis, as dedicadas e também as carismáticas. Eu apenas não sabia que poderia, com o passar do tempo, me acostumar a lidar com todas elas.
Maíra Viana
terça-feira, 21 de abril de 2009
segunda-feira, 20 de abril de 2009
domingo, 19 de abril de 2009
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Lua,
Espada nua
Bóia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração
Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Me dá tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar Luiza ...
sábado, 11 de abril de 2009
terça-feira, 7 de abril de 2009
domingo, 5 de abril de 2009
sábado, 4 de abril de 2009
Pedro Maciel
A fotografia (imagem) é um elogio do olhar. Narra a arte da ilusão. Henri Cartier-Bresson, artesão da imagem, fundador de um estilo geométrico e humanista, ao capturar a imagem, repara o momento exato em que as pessoas ou coisas se mostram por inteiro, e nos faz ver algo que até então era desconhecido, ou que havíamos entrevisto com os olhos embaçados pela pura e simples realidade.
Bresson, último mito da fotografia, diz que "o aparelho fotográfico é um caderno de croquis, instrumento da intuição e espontaneidade, o mestre do instante que, em termos visuais, questiona e decide ao mesmo tempo. Para revelar o mundo, é preciso sentir-se implicado no que se enquadra através do visor". Para ele somente duas coisas o interessam: o instante e a eternidade. Talvez o maior segredo da obra de Bresson seja a idéia de colocar no mesmo ponto de mira, a cabeça, o olho e o coração. Para Bresson a emoção é fundadora da razão.
O fotógrafo fez de sua câmera Leica uma extensão do seu olho. Um olho que captou composições no breve intervalo do tempo e "apanhou a vida no laço", expressando a emoção e não a visualidade banal do sentimentalismo ou do sensacionalismo. Bresson vivia "tocaiando seres humanos como um caçador tocaia animais", escreveu John Berger. Nos seus instantâneos nota-se as regras básicas do fotógrafo: concentração, disciplina de espírito, sensibilidade e senso de geometria.
Bresson tem a noção exata do "momento decisivo" para capturar a imagem. No prefácio de seu ensaio sobre o momento decisivo, publicado em 1952, ele anota que "alguém entra repentinamente no seu campo de visão. Você começa a seguir essa pessoa através do visor da máquina. Você espera, espera, e finalmente aperta o disparador - e sai com a sensação (embora não saiba exatamente por quê) de que realmente pegou alguma coisa".
O momento decisivo é uma fração de segundos em que os personagens em movimento adquirem um equilíbrio geométrico. Ele considera "a atenção e a antecipação do momento decisivo", o instante único quando a imagem pode ser roubada do tempo, como uma ocupação que o fotógrafo deve adquirir naturalmente, como a arte do arco-e-flecha de um mestre zen, que se transforma no alvo para poder atingi-lo.
Em Tête à Tête: Retratos de Henri Cartier-Bresson (Companhia das Letras), o fotógrafo apresenta uma coletânea de retratos e desenhos a lápis que exploram a paisagem variada do rosto humano. Ele não recorre a artifícios de composição, mas busca nos retratados os traços expressivos. Revela o silêncio dos retratados; amplia o humor desconcertante de Saul Steinberg com o gatinho, a face existencial de Giacometti e Beckett, a alegria contagiante de Che, a sombra infinita de Erza Pound, a solidão de Sartre em Paris. Bresson retrata a época em que viveu e, por isso, nos oferece uma profunda investigação da nossa permanência no mundo. Suas imagens, em estado de graça, dotadas de densidade e história, revelam as coisas vividas. Para ele, fotografar é olhar de verdade para o mundo. Sua arte é um tributo ao ser humano.
O fotógrafo aventureiro
Henri Cartier-Bresson , francês, nascido em 1908 (e morto neste ano) se autodenominava foto-jornalista. Mas poucas fotos de sua autoria tratavam de fatos jornalísticos, num sentido convencional. Fotografou mais entre a década de 30 e os anos 70. Estudou pintura com o cubista André Lhote. Em seguida estudou cinema nos EUA com Paul Strand e depois trabalhou como assistente de Jean Renoir, no filme "A Regra do Jogo".
Bresson começa a fotografar em 1932, com fascínio tanto pelo Surrealismo - "sua ética mais que sua estética" - como pela ebulição política na França que acabou na Frente Popular contra o fascismo. "O aventureiro em mim sentiu-se obrigado a registrar com um instrumento mais rápido que um pincel as feridas do mundo".
O fotógrafo foi preso em 1940 pelo exército alemão em Paris. Fugiu e continuou a fotografar a "resistência" para revistas como Life. No final da Segunda Guerra, fundou com Robert Capa, David Seymour-Chim e George Rodger a agência de fotografias Magnum e passou duas décadas seguintes em missão, testemunhando as revoluções que assolaram a China e a Índia. Suas fotos, tiradas com a lendária Leica 35mm, comentam os eventos e personagens mais singulares deste século. Em 1954 tornou-se o primeiro fotógrafo ocidental a entrar na União Soviética após a distensão promovida por Nikita Kruschev. Em 1966 desliga-se da agência Magnum e passa a dedicar-se exclusivamente ao desenho e à pintura.
Bresson anotou em 1992 que "a fotografia é um impulso espontâneo de uma atenção visual perpétua, que captura o instante e sua eternidade. Já o desenho elabora por sua grafologia o que nossa consciência captura desse instante. A foto é uma ação imediata; o desenho uma contemplação".
Digestivo Cultural
O Meio - Luiz Tatit
Metáfora pura
Suspensa no ar
Assim era no princípio
Só bocas abertas
Inda balbuciantes
Querendo cantar
Por isso que sempre no início
A gente não sabe como começar
Começa porque sem começo
Sem esse pedaço não dá pra avançar
Mas fica aquele sentimento
Voltando no tempo faria outro som
Porque depois de um certo ponto
Tirando o começo até que foi bom
Por isso é melhor ter paciência
Pois todo começo começa e vai embora
O problema é saber se já foi
Ou se ainda é começo
Porque tem começo que às vezes demora
Que passa um bom tempo
Inda está no começo
Que passa mais tempo
Inda não está na hora
Tem gente que nunca sai do começo
Mas tem esperança de sair agora
Se todo começo é assim
O melhor começo é o seu fim
Um dia ainda há de chegar
Em que todos irão conquistar
Um meio pra não começar
Agora depois do começo
Já estou me sentindo
Bem mais à vontade
Talvez já esteja no meio
Ou começo do meio
Porque bem no meio
Seria a metade
É bom demais estar no meio
O meio é seguro pra gente cantar
Primeiro, acaba o bloqueio
E a te o que era feio começa a soar
Depois todo aquele receio
Partindo do meio, podia evitar
Até para as crianças nascerem
Nascendo no meio, não iam chorar
Diria, sem muito rodeio
No princípio era o meio
E o meio era bom
Depois é que veio o verbo
Um pouco mais lerdo
Que tornou tudo bem mais difícil
Criou o real, criou o fictício
Criou o natural, criou o artifício
Criou o final, criou o início
O início que agora deu nisso
Mas tudo tomou seu lugar
Depois do começo passar
E cada qual com seu canto
Por certo ainda vai encontrar
Um meio para nos alegrar
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Falando sobre fotografia II
Poucos são os que gostando de fotografia, praticantes ou não, nunca ouviram falar no "momento decisivo". Este conceito, construído por Henri Cartier-Bresson, define o momento em que os elementos presentes numa cena se combinam de modo a tornar aquela fração de tempo a síntese do fato. O fotógrafo atento deve aproveitar este "momento decisivo" para, em registrando-o, traduzir em imagem o acontecimento. Por isso o ato de fotografar não deve nem pode ser uma atividade passiva. O fotógrafo não pode ser uma mera testemunha dos fatos. Ele tem que acompanhar, perceber, antecipar, compreender, contextualizar o que está acontecendo ao seu redor, sob pena de ser simplesmente um ilustrador sem brilho da mensagem de terceiros.
Poucos são os que, também, nunca ouviram esta frase: "Uma fotografia vale por mil palavras". Ela pode ser verdadeira se o autor da fotografia, manejando de modo competente a sintaxe de sua linguagem, passar informações correspondentes às tais "mil palavras". Mas para isso deve, em primeiro lugar, saber o que quer dizer, qual a mensagem a ser transmitida. Para tanto, repito, não pode ser passivo em relação ao mundo e à vida.
Viver não tem nada de passivo. Viver é perceber a realidade e pensá-la, gerando conhecimento, na definição de que "conhecimento é a realidade pensada".
Fotografar é um modo de viver. Exige comprometimento integral e, também, exige integridade (viver de acordo com seus princípios). Ultimamente ando pensando muito nesta palavra: "comprometimento". Estar "comprometido" com o ato de fotografar... Uma das conclusões a que cheguei foi que quando se está comprometido com alguma coisa ou com alguém, deve-se avaliar mais o que você próprio está proporcionando ao objeto do seu comprometimento, do que o que você está recebendo dele. O comprometimento é unilateral, a recíproca é uma conseqüência sobre a qual você não tem controle. Estar comprometido com a vida é o primeiro e fundamental passo para a felicidade, mas não garante a ninguém um desfilar interminável de dias risonhos. Estar comprometido com a fotografia é o primeiro e fundamental passo do fotógrafo para captar e traduzir o espírito do mundo em imagens, mas não garante a ninguém o reconhecimento alheio. Daí a importância da integridade. Viver comprometido com seus princípios, simplesmente porque eles são os seus princípios.
Luiz Ferreira é jornalista, fotógrafo "free-lancer",
criador e editor da revista "Espaço Photo",
colunista da revista "Atelier - Guia de Artes Plásticas",
Vice-Presidente e Diretor de Comunicação da ABAF
http://www.confoto.art.br/artigos03.php
A Miséria Fotográfica
Não meus amigos, não estou falando de nenhum fotógrafo "mão-de-vaca", e nem da situação da fotografia no Brasil. Este título, na verdade, refere-se à atração que grande parte dos fotógrafos, por todo o mundo, e mais ainda por aqui, tem pelo tema social, mais precisamente pela miséria e pelo sofrimento humano.
E é isso que quero discutir
Mas um fato é que não fotografamos a miséria só porque ela está lá! Fotografamos também porque a procuramos, vamos ao seu encalço, andamos pela rua procurando mendigos pelos cantos.
Outro dia um amigo me mostrou as fotos que fez de um morador de rua, não me lembro bem da história, mas ele conversou com o sujeito, e descobriu uma pessoa inteligente e culta, por detrás daquela aparência suja. As fotos ficaram boas, mas o que ele aprendeu foi ainda melhor.
Imagine a cena, um jovem estudante, no início de seu curso de fotografia, então seu professor manda os alunos para a primeira saída fotográfica, cada um deveria fazer fotos na rua, por conta própria.
E agora? O que ele faz? Ele vai andar ali por perto, e se depara com a bela igreja da Consolação, com seu estilo neo-gótico-semi-barroco. Aquelas abóbodas altas e imponentes na entrada. Ele faz uma foto. Então percebe que há vários mendigos por ali, e ele precisa de algo mais em sua foto. Nada melhor do que o incrível contraste entre a riqueza e a miséria não?
Então ele se aproxima de uma mulher, uma mendiga não muito velha, apesar de que é difícil imaginar sua idade, ele pergunta se ela faria um favor, de ficar em frente à igreja, para ele fazer uma foto, imediatamente ela pergunta "o que é que eu ganho ?". Aparentemente ela já era modelo profissional, então ele negocia e consegue a foto por um passe.
Esse jovem era eu (ainda sou) e essa foi minha primeira foto na rua. Para todos os efeitos eu a considero minha foto n.1.
E porque eu contei essa história toda? Para mostrar o que se passou na minha cabeça. Tirar foto de mendigos foi a primeira coisa que pensei, fazer fotos de miseráveis parece ser natural. Mas porque temos essa atração pelo que mais queremos distância?
Ninguém quer ser mendigo, mas que atire a primeira pedra o fotógrafo que nunca fotografou um!
Isso, a meu ver, é em parte influência da nossa cultura visual. Qual é o fotógrafo iniciante que não admira Sebastião Salgado. Eu adoro também o Newman Sucupira, que faz uma espécie de foto-glamour de pessoas simples do interior. Além disso, estamos acostumados a ver matérias na TV, sobre a miséria, mendigos, etc.
Acho ainda que a fotografia com temática social faz muito sentido no Brasil, devido a nossa situação de pobreza generalizada. Pega bem se preocupar e fazer fotos conscientes. Alguém que tem preocupação com a sociedade, se aprende fotografia, sai fotografando a miséria mesmo.
Sem falar que se andarmos pela cidade, para registrar a realidade, não tem como fugir, eles estão lá ! Mesmo que na maior parte do tempo algumas pessoas consigam ignorá-los, por ser dolorosa sua visão, quando vamos fotografar a cidade, abrimos os olhos e a mente, e nossa sensibilidade de fotógrafos deixa passar mais que o normal, enxergamos coisas belas que nunca havíamos percebido, mas também enxergamos a miséria, bem nos olhos.
Esses dias recebi a "Câmera Viajante". Um projeto muito legal, desenvolvido pelo pessoal da lista Fotobrasil, que é uma câmera, compacta, que vai viajando e passando na mão de vários fotógrafos, e cada um faz sua foto e envia a câmera para o próximo. No final haverá uma exposição com todas as fotos, feitas por pessoas diferentes, em locais e até países diferentes, mas com o mesmo equipamento. Aposto que vai haver muitas fotos de miséria, a minha é uma delas!
Não sou contra fotografar a miséria, pelo contrário, e ainda acho que devemos fotografar e pensar muito mais sobre esse tema.
Então é isso que vou continuar perguntando nessa coluna, se você já fotografou uma "composição da realidade" hoje? Espero que comece logo!
Yuri Bittar
Designer / Fotógrafo / Historiador
http://www.yuribittar.com
http://www.2communication.com
quarta-feira, 1 de abril de 2009
A História de Lily Braun
Chico Buarque
Como num romance
O homem de meus sonhos
Me apareceu no dancing
Era mais um
Só que num relance
Os seus olhos me chuparam
Feito um zoom
Ele me comia
Com aqueles olhos
De comer fotografia
Eu disse cheese
E de close em close
Fui perdendo a pose
E até sorri, feliz
E voltou
Me ofereceu um drinque
Me chamou de anjo azul
Minha visão foi desde então
Ficando flou
Como no cinema
Me mandava às vezes
Uma rosa e um poema
Foco de luz
Eu, feito uma gema
Me desmilinguindo toda
Ao som do blues
Abusou do scotch
Disse que meu corpo
Era só dele aquela noite
Eu disse please
Xale no decote
Disparei com as faces
Rubras e febris
E voltou
No derradeiro show
Com dez poemas e um buquê
Eu disse adeus
Já vou com os meus
Numa turnê
Como amar esposa
Disse ele que agora
Só me amava como esposa
Não como star
Me amassou as rosas
Me queimou as fotos
Me beijou no altar
Nunca mais romance
Nunca mais cinema
Nunca mais drinque no dancing
Nunca mais cheese
Nunca uma espelunca
Uma rosa nunca
Nunca mais feliz