domingo, 9 de novembro de 2008







Possuidor de uma personalidade complexa e fascinante, Picasso apresentava no entanto períodos prolongados de mau humor, fosse por problemas familiares, fosse por insatisfação com o seu trabalho. Nessas alturas era insuportável - nada estava bem para ele! - o que poderá explicar os seus relacionamentos pouco duradouros, especialmente com as mulheres. Todavia, demonstrava uma atitude generosa e tolerante para com outros artistas ou para com pessoas criativas de uma maneira geral; respeitava o seu trabalho e procurava não se intrometer.

Assim sendo, quando alguém o queria fotografar, ele seguia obedientemente as indicações do fotógrafo como que impressionado pela parafernália de tripés, câmaras e projectores que o rodeavam. Numerosas imagens do pintor espanhol foram produzidas através deste método por fotógrafos famosos como Robert Capa, Cartier-Bresson, Yosuf Karsh, David Seymour, Robert Doisneau ou Man-Ray que, pese embora a sua grande qualidade, reflectiam mais a personalidade do fotógrafo do que do retratado. Esta não foi, porém, a abordagem de Edward Quinn.


Edward Quinn começou por ser músico. Durante a segunda guerra mundial tornou-se piloto da RAF e, quando a guerra acabou, continuou a pilotar para a aviação civil. Nos anos 50' foi viver para a Côte d'Azur, já na altura local de lazer de inúmeras celebridades internacionais. Pensou então que talvez fosse boa ideia tornar-se repórter fotográfico... Em 1951, durante uma das suas reportagens, conheceu Picasso. Nas primeiras fotografias que tirou Quinn ficou voluntariamente aquém de certo limite, deixando o pintor trabalhar livremente sem necessidade de poses artificiais.

Picasso sentia-se à vontade com o fotógrafo e concentrava-se exclusivamente no trabalho esquecendo que estava a ser retratado. E assim, ao longo de mais de 20 anos, Quinn entrou na sua esfera privada, captando o homem que estava para lá do artista - a sua casa, as suas mulheres, os seus filhos, os seus amigos, os seus animais de estimação. Foi dos poucos a ter o privilégio de o fazer, conseguindo reunir o mais espantoso conjunto de imagens que se conhece do pintor. Picasso, por seu lado, nunca lhe pediu para ver as fotografias; sabia que, apesar do interesse jornalístico nele como "objecto", havia um código de ética escrupulosamente observado. Por isso se tornaram amigos.

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