Infelizmente, ainda não se escreveu a história dos homens e das mulheres sem história.
(Miguel de Unamuno)
Em quadrados de imagens, uma proposta: a possibilidade de um olhar peculiar sobre os varais de roupas. Um exercício de reflexão a partir do lugar que se ocupa; e nos dias de hoje não há quem não tenha um varal para, aqui, se identificar.
O varal, por sua função, pressupõe o espaço ao ar livre. Roupas molhadas esperam vento, esperam sol. Homens e mulheres esperam roupas secas. Ciclo renovável de uso diário, de vida vivida, de pessoas vestidas
É certo, o óbvio: os varais têm, sim, um valor funcional - servem para secar roupa. Mas é no certo e no óbvio que cabe um olhar que indaga como as pessoas são a partir do que elas têm e mostram.
Lençóis é um pedaço vivo de Brasil intenso. Um microcosmo brasileiro, onde o valor funcional se agrega ao valor cultural quando o espaço para a vivência humana esgota-se em possibilidades de ocupação. O varal é o primeiro a ultrapassar os limites espaciais da casa, ora indo para o meio da rua, para a calçada, ora ocupando o terreno baldio ao lado ou à frente e, em muitas vezes, apoderando-se das pedras à beira-rio. E assim, o privado se mescla ao público no momento em que a rua e o rio, juntamente com os carros e cidadãos, são espaços para o varal, para as roupas íntimas ou preferidas.
Em uma visão metafórica podemos dizer que o varal é a bandeira de cada família e a bandeira é, em si, um pedaço de pano, com uma ou mais cores, com legendas, que se hasteia e serve como distintivo de identidade.
Histórias ao vento
Ana Cândida Zanesco
Texto:
http://www.studium.iar.unicamp.br/11/1.html?studium=index.html#
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