As musas não têm perfil, seu rosto quem o dá é o Destino, a seu gosto.
- São feitas da matéria de que são feitos os sonhos!
Desejar o corpo da musa é o abismo.
Foi inevitável: me atirei.
Cruzei a ponte que separa os dois mundos incompatíveis.
Agora, feito um bailarino hindu que dançou no alto de uma árvore
na ponta de um pé só,
penso o equilíbrio entre o ar e o vazio, as mãos mandam mensagens,
um alfabeto de gestos, enquanto despenco.
Lá embaixo alguém acena: pareço dizer adeus?
Na guerra dos mundos, os dois mundos que não combinam acabaram por se tocar.
Já era tarde, noite alta.
E o corpo da musa,
impenetrável.
Texto de Irajá Menezes
http://www.irajamenezesleituras.blogspot.com/
domingo, 24 de fevereiro de 2008
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Overdose diária
"Como toda pessoa é uma porta, cada canção é uma ponte de cordas de nylon, que só tem sentido se houver um outro lado. Quando a Europa ia para os Fabulous Trobadours, o Nordeste já vinha do Cajú e da Castanha. A corrente elétrica da cultura é sempre em mão-dupla: tudo que vai vem; tudo que toca é tocado também."
Lenine - O DIA EM QUE FAREMOS CONTATO
Lenine - O DIA EM QUE FAREMOS CONTATO
"...Porque sou a mistura de caos e jardim...."
Ao meu redor estão sempre as mesmas pessoas. Elas parecem precisar de mim. Estou sempre apagando luzes e fechando portas. Saio por último. Olho de novo só pra ter certeza de que não esquecemos nada. Ás vezes fica uma toalha, um par de sapatos, uma meia-calça perdida. Paciencia. Nada que vá fazer muita diferença. À noite, as estradas são todas iguais. Como é dificil dormir em movimento. Estamos lado a lado mas só consigo te afagar em sonhos. E repito: os espíritos estão vendo tudo. Estou sempre apagando luzes e fechando portas. Saio por último. Ao meu redor estão sempre as mesmas pessoas. Pareço precisar tanto delas. Paciência. Nada que vá fazer muita diferença.
*
Sobre tantas coisas...
E lá estava ela, pensando só, ali com seus botões. Tinha mania de se perguntar. E perguntava. Mas nem sempre se respondia. Vai saber porque diabos se perguntava tanto sobre tantas coisas. Talvez porque já tivesse perguntado pra muita gente por aí. Talvez, muita gente por aí, não tivesse conseguido responder tanto sobre tantas coisas. Gostava de se refugiar nas ramificações frondosas de seus próprios pensamentos. A janela aberta sugeria paisagens de outras árvores, rios, vilarejos, cidades...grandes e pequenas. E assim, se vendo, se perguntava quem haveria de ser ela se acaso tivesse escolhido a primeira cidade, a barra da saia, a comida posta. E se tivesse ela escolhido o casamento? Se tivesse voltado atrás? Se tivesse reagido certa vez? Quem haveria de ser ela? Ela mesma se respondia mas depois duvidava de suas próprias explicações. Gostaria de voltar no tempo e mudar um instante qualquer de sua vida. Se ainda assim, a sua história continuasse a ser a mesma, da menina e de sua casa na árvore, descobriria logo que nunca teve escolha. Se acontecesse então de outro jeito, um tanto assim diferente, e não houvesse mais nem menina e nem casa na árvore, acabaria por entender que, cada escolha que faz, altera ruas, casas, sonhos e verbos da sua história. E das histórias de muita gente por aí. E assim passava o tempo - sempre pra frente, nunca pra trás - sempre se perguntando, se respondendo, se duvidando. E se perguntando de novo, até ter certeza. Gostava de se refugiar nas ramificações frondosas de seus próprios pensamentos. E ali ficava, pensando só, lá com seus botões, se em algum outro lugar, no tempo ou no espaço, haveria ou não de haver, alguém como ela assim, sempre a se perguntar, em meio a tantos “se”, quem haveria de ser....
Textos: Maíra Viana
http://www.mairaviana.blogger.com.br/
E lá estava ela, pensando só, ali com seus botões. Tinha mania de se perguntar. E perguntava. Mas nem sempre se respondia. Vai saber porque diabos se perguntava tanto sobre tantas coisas. Talvez porque já tivesse perguntado pra muita gente por aí. Talvez, muita gente por aí, não tivesse conseguido responder tanto sobre tantas coisas. Gostava de se refugiar nas ramificações frondosas de seus próprios pensamentos. A janela aberta sugeria paisagens de outras árvores, rios, vilarejos, cidades...grandes e pequenas. E assim, se vendo, se perguntava quem haveria de ser ela se acaso tivesse escolhido a primeira cidade, a barra da saia, a comida posta. E se tivesse ela escolhido o casamento? Se tivesse voltado atrás? Se tivesse reagido certa vez? Quem haveria de ser ela? Ela mesma se respondia mas depois duvidava de suas próprias explicações. Gostaria de voltar no tempo e mudar um instante qualquer de sua vida. Se ainda assim, a sua história continuasse a ser a mesma, da menina e de sua casa na árvore, descobriria logo que nunca teve escolha. Se acontecesse então de outro jeito, um tanto assim diferente, e não houvesse mais nem menina e nem casa na árvore, acabaria por entender que, cada escolha que faz, altera ruas, casas, sonhos e verbos da sua história. E das histórias de muita gente por aí. E assim passava o tempo - sempre pra frente, nunca pra trás - sempre se perguntando, se respondendo, se duvidando. E se perguntando de novo, até ter certeza. Gostava de se refugiar nas ramificações frondosas de seus próprios pensamentos. E ali ficava, pensando só, lá com seus botões, se em algum outro lugar, no tempo ou no espaço, haveria ou não de haver, alguém como ela assim, sempre a se perguntar, em meio a tantos “se”, quem haveria de ser....
Textos: Maíra Viana
http://www.mairaviana.blogger.com.br/
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Roda Viva
Chico BuarqueTem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas rodas do meu coração...
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
domingo, 3 de fevereiro de 2008
Fernando Pessoa
XXIX
Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De, que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés –
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma…
Alberto Caeiro
O Guardador de Rebanhos
Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De, que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés –
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma…
Alberto Caeiro
O Guardador de Rebanhos
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